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A Fundação Catarinense de Cultura
e o Museu de Arte de Santa Catarina
apresentam

A exposição comemorativa do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. Para compor a mostra, foram convidadas três artistas representantes da cultura japonesa, residentes em Florianópolis: a gravadora Julia Iguti e as ceramistas Marina Takase e Marina Uieara. Serão expostos, também, objetos oriundos de vários acervos pertencentes à comunidade japonesa local. Esses objetos, de valor documentário e afetivo, foram escolhidos para representarem exemplarmente a tradição da cultura japonesa no Brasil.

Abertura: 27 de maio de 2008, às 19h30min.
Visitação:
Entrada Franca, 28 de maio a 22 de junho de 2008, das 13 às 21 horas, de terça a domingo.

Texto sobre a exposição:

"Auspicioso centenário"

De todas as contribuições nacionais para a história das artes visuais no Brasil, a japonesa foi a mais extensa e, por momentos, a mais brilhante. Desde o modernismo dos anos trinta até os dias de hoje, artistas imigrantes, ou oriundos, criaram núcleos de interesse plástico que se destacaram no panorama local, integrando-se de modo original nos movimentos emancipadores de nossa criatividade. Citemos alguns: Kaminagai, Tiakashi Fukushima, Flávio Shiró, Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Kazuo Wakabayashi, entre outros. Passaram pela pintura de paisagem, pelo expressionismo abstrato, pelo abstracionismo lírico e gestual, ou geometrizante, e mantiveram em suas obras um vínculo com as origens orientais e criaram aspectos próprios na semiótica da nossa pintura, usando a cor, ora como tema e meio, ora como impulso plástico de efeitos contundentes e idôneos. O exercício da cerâmica foi domínio relevante na expressão dessa estética, ao mesmo tempo de raiz e inovadora. Ela ostenta nomes tão excepcionais como Kimi Nii e Kasuko Nakano.

Ao invés de apelar para todos esses ilustres representantes, o MASC quis homenagear o centenário da imigração japonesa convidando para a presente mostra comemorativa três artistas de origem japonesa que trabalham em Florianópolis, e desenvolvem aqui suas importantes pesquisas; artistas em cujos trabalhos reencontramos, ao lado de grande impacto e intensidade, a serenidade disciplinadora característica do modo japonês de conceber a poética construtiva da forma.

João Evangelista de Andrade Filho

Administrador do Museu de Arte de Santa Catarina

O antropólogo José Márcio Pinto de Moura Barros tem longa experiência na formação e capacitação de quadros profissionais para o setor cultural, adquirida principalmente na área acadêmica. é professor do programa de pós-graduação em comunicação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e do curso de ciências sociais e comunicação daquela universidade, onde também dirige o Departamento de Arte e Cultura. Além de sua atuação na PUC Minas, é coordenador pedagógico dos cursos de especialização em gestão cultural na Universidade de Cuiabá (MT) e de ensino e pesquisa nos campos da arte, cultura e educação na Escola Guignard, da Universidade do Estado de Minas Gerais. Publicou, entre outros livros, Diversidade Cultural: Da Proteção à Promoção, recém-lançado pela Editora Autêntica, e Comunicação e Cultura nas Avenidas de Contorno, que saiu pela Editora PUC Minas em 2005.

Em complemento à sua atuação na academia, coordena em Belo Horizonte o Observatório da Diversidade Cultural (ODC), programa voltado à informação, à capacitação e à experimentação das possibilidades de atuação de gestores culturais, arte-educadores, artistas e outros agentes do campo da cultura. Colabora, ainda, com organizações governamentais e privadas, como é o caso do Observatório Itaú Cultural, onde participou de seminários e outros encontros técnicos.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à revista, em que são discutidos os desafios, necessidades e possibilidades para a criação de profissionais capazes de atuar com qualidade em um campo ainda distante de contar com contornos definidos, mas que se transforma e se reinventa em ritmo crescente.

Revista Observatório Itaú Cultural: O senhor é diretor de arte e cultura da PUC Minas e coordenador do Observatório da Diversidade Cultural. Pode descrever brevemente as atribuições dessas duas instituições e nos dizer quais são as principais atividades de formação e/ou capacitação de quadros para o setor cultural por elas desenvolvidas?

José Márcio Barros: A Diretoria de Arte e Cultura (DAC) da PUC Minas é um órgão auxiliar da Reitoria e foi criada em 2005. Trabalhamos com as seguintes diretrizes gerais:

Formação: Realizar projetos e ações para o desenvolvimento de habilidades e práticas artísticas, competências para o trabalho com a cultura e formação de público interno e externo;

Informação: Desenvolver estratégias e ferramentas de comunicação para a divulgação de idéias e atividades culturais no âmbito da universidade e dos demais setores da sociedade;

Difusão: Promover a experiência de trocas culturais e ações consorciadas entre os diversos campi, unidades acadêmicas e demais instituições parceiras da universidade;

Produção: Fomentar a criação artística e cultural no ambiente acadêmico e estimular o constante aprimoramento dos grupos artísticos já existentes;

Gestão Estratégica: Participar da gestão do patrimônio histórico, acervo artístico e espaços culturais da universidade e das decisões relativas aos espaços de sociabilidade nos diversos campi e unidades acadêmicas.

Integram a estrutura da DAC o Museu de Ciências Naturais, a PUC TV, a Escola de Teatro da PUC Minas, o coral e um grupo de teatro experimental.

As atividades de formação são realizadas tanto como atividade regular das estruturas que integram o órgão quanto em atividades especiais na forma de oficinas e cursos. Para se ter uma idéia, a Escola de Teatro conta com aproximadamente 230 alunos nos cursos de iniciação profissionalizante e infantil. A PUC TV, por seu lado, constitui-se como um espaço de aprendizagem de TV e vídeo que atende aproximadamente 30 alunos semestrais. A própria DAC realizou no primeiro semestre de 2008 cursos e oficinas de dança contemporânea, pandeiro, canto a capela, cinema brasileiro, iniciação ao desenho etc. No segundo semestre, oficinas de clown, haicai e história do rock e da MPB. As atividades atendem aos alunos da universidade e aos demais interessados, e atingem Belo Horizonte e outras cidades onde a PUC Minas se encontra.

Já o Observatório da Diversidade Cultural é um programa desenvolvido por meio do Instituto Artivisão, uma organização não-governamental de Minas Gerais que tem apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e parceria com a Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (www.observatoriodadiversidade.org.br).

Esse programa propõe realizar algo que é identificado como prioritário nos mais diversificados círculos de reflexão e ação transformadora da cultura no mundo: a efetiva capacitação de artistas, arteeducadores, agentes culturais e profissionais de áreas afins para o trabalho cotidiano com a diversidade cultural. Sua proposta é organizar processos de capacitação e difusão que garantam a integração entre a produção e a disponibilização de informação, a reflexão teórico-conceitual e experimentações estético-educativas para artistas, agentes culturais e educadores integrantes de instituições, grupos e projetos culturais de Minas Gerais e de outros estados. Procuramos levar os participantes a uma reflexão consciente sobre o tema, que lhes permita integrar o conceito e o sentido da diversidade cultural em seu trabalho, de forma a tornarem-se verdadeiros multiplicadores de seus fundamentos filosóficos e teóricos e de suas possibilidades de fundar práticas e metodologias mais abertas e inclusivas.

O programa Observatório da Diversidade Cultural é, pois, uma proposta de caráter coletivo e colaborativo que vem responder a uma necessidade surgida após a promulgação da Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, da Unesco1: garantir que os princípios ali contidos sejam mais do que um elenco de boas intenções e se concretizem em políticas de governo e sociedade civil, em instrumentos eficazes de monitoramento e avaliação da efetividade dos princípios da Convenção. Com esse programa promovemos a organização de um ambiente virtual de informações sobre a diversidade cultural pelo mundo, aberto à consulta e alimentador de órgãos de comunicação e instituições. Mais que uma ferramenta virtual de caráter tecnológico, é um elemento de intervenção e acesso à informação articulada sobre o tema da diversidade cultural, aberto e voltado a instituições e projetos no Brasil e no mundo. A criação e a manutenção desse espaço visam contribuir com as experiências concretas de inclusão digital, fornecendo boletins eletrônicos de atualização, organizando banco de dados e textos sobre o tema e estimulando a interação entre os participantes e interessados.

Além da manutenção desse ambiente virtual, o Observatório da Diversidade Cultural desenvolve programas de formação teórico-conceitual que aliam a diversidade da cultura e o desenvolvimento. Realiza encontros de reflexão, estudos e seminários em torno dos temas diversidade cultural como patrimônio; documentos internacionais sobre direitos culturais e diversidade cultural; princípios de cooperação internacional e diálogo intercultural; leitura crítica da mídia e formação da sociedade e da cultura nas cidades e a questão da diversidade.

R.O.I.C.: Em junho de 2008, o senhor promoveu em Belo Horizonte o 3º Seminário

Diversidade Cultural. Quais contribuições ou reflexões sobre a formação de agentes, gestores, arte-educadores e outros quadros profissionais da cultura podem ser destacadas nessa edição e, eventualmente, nas edições anteriores?

J.M.B.: O que se pode destacar é que temos pautado a discussão da diversidade cultural em nossas atividades locais e nos encontros internacionais com duas ênfases:

- A convocação e o diálogo entre diversos setores da sociedade, instituições e sujeitos, de forma a garantir um debate plural sobre a temática, evitando assim falsos consensos e posições românticas sobre nossas diferenças;

- A perspectiva efetiva da transversalidade na abordagem da diversidade cultural, tomada não apenas como entrelaçamento de temas, mas como modo mesmo de concebê-la.

A primeira edição do seminário aconteceu em 2005, em parceria com o Ministério da Cultura do Brasil, a Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, a Escola do Legislativo, a ONG Grupo de Estudos e Pesquisas sobre as Mundializações (Germ) e a Maison des Sciences de L"Homme Paris Nord. Realizado em duas etapas, o evento teve a participação de educadores, estudantes, agentes culturais, jornalistas, artistas, gestores culturais, pesquisadores e interessados em geral. Graças ao sistema InterLeges, o evento foi disponibilizado a todas as Assembléias Legislativas do país. Os anais desse seminário foram publicados em 2006 pela PUC Minas e encontram-se disponíveis no site do ODC.

A realização do segundo seminário, em 2007, pretendeu dar continuidade à reflexão sobre os desafios da promoção e da proteção da diversidade cultural, promovendo a atualização sobre o estágio em que se encontravam as medidas regulatórias, as pesquisas e a produção de conhecimento em Minas Gerais, no Brasil e em outros contextos socioculturais sobre a questão. Permitiu o compartilhamento sensível de experiências entre aqueles que trabalham sob o signo da diversidade cultural.

No último mês de junho foi realizado o terceiro seminário, com as mesmas perspectivas de debater a diversidade cultural sob diferentes óticas e perspectivas. Sua programação esteve organizada em painéis e mesas-redondas, e contou com o lançamento do livro Diversidade Cultural - Da Proteção à Promoção, organizado com base no seminário de 2007. Uma das mesas-redondas centrou-se justamente na questão da gestão da diversidade, enfocando, entre outros temas, os processos de formação e capacitação como espaços privilegiados da experiência humana e do fortalecimento das práticas que envolvem a noção da diversidade cultural. Sob a mediação de Jurema Machado, coordenadora de cultura da Unesco no Brasil, contou com as presenças de Enrique Saravia, da FGV Rio, e de Maria Helena Cunha e Marcela Bertelli, da Duo, de Belo Horizonte.

R.O.I.C.: Uma das questões mais freqüentes quando se discutem indicadores culturais e outras formas de aferição dos fenômenos culturais é como definir cultura. São muitas as soluções propostas e, a depender de cada uma delas, também podem ser muito diferenciadas as análises e alternativas de intervenção. Esse também é um problema para as atividades profissionais da cultura? Em outras palavras, como definir as profissões e atividades culturais e propor programas de formação e capacitação que respeitem as especificidades dessas atividades?

J.M.B.: Não é nada fácil equacionar a relação entre as dimensões socioantropológicas da cultura, ou seja, a cultura como tudo aquilo que é fruto de aprendizagem em sociedade, e suas dimensões específicas, como a arte, as experiências simbólicas e estéticas, a indústria cultural etc. Penso que uma forma de equacionar isso em processos de formação de gestores e agentes culturais seja estabelecer relações por meio daquilo que autores como Edgard Morin chamam de pensamento complexo. Ou seja, trata-se de um modelo teórico e conceitual que pode enfrentar a complexidade dessa relação sem cair no "canto da sereia" de sua simplificação. Assim, penso que a adoção de um conjunto de perspectivas possa nos ajudar a pensar como realizar escolhas na construção de nossas matrizes de formação. Rapidamente eu destacaria a adoção da perspectiva circular, que indica que cada uma das dimensões da realidade e dos conceitos que construímos para pensá-la afeta o outro num processo contínuo de organização e desorganização; a adoção da perspectiva da interconectividade, que indica que tudo está ligado a tudo e que agir nas áreas de conexão pode produzir efeitos no todo e nas partes simultaneamente; a adoção da perspectiva da autoprodução, que nos remete ao reconhecimento de que somos (nós, nossas organizações e nossas instituições, no sentido amplo) produtores e produtos; a adoção da perspectiva dialética, que nos convida a pensar na existência de contradições e paradoxos; a adoção da perspectiva holística, que reconhece o todo nas partes e as partes no todo; a adoção de uma perspectiva dinâmica, que nos obriga a reconhecer que o aleatório, o incerto e o imprevisível são variáveis objetivas; e, por fim, a adoção da perspectiva da intersubjetividade, que nos convida a reconhecer que fazemos parte de nossos objetos e estes nos constituem como sujeitos.

R.O.I.C.: Em artigo no número 2 desta revista o senhor ressaltou que vivemos "numa sociedade de descolamento entre informação e conhecimento", uma sociedade onde "o excesso de informação não gera conhecimento em quantidade e qualidade proporcionais". Como enfrentar o desafio de produzir conhecimento nesse tipo de sociedade e garantir que a cultura siga sendo, também em suas palavras, "a experiência fundante do encontro e da troca"?

J.M.B.: Mais uma vez, não é nada fácil responder à questão, até porque seu enfrentamento depende da adoção de uma perspectiva radicalmente transversal e ampla, ou seja, não se resolve o problema da cultura apenas no campo da cultura. De forma ampla, precisaríamos partir de uma mudança na perspectiva de pensar o desenvolvimento. Se quiserem, uma mudança de paradigma que reintegre as várias dimensões das políticas públicas e a perspectiva do desenvolvimento humano, tão bem definida pelo Banco Mundial como o equilíbrio entre as quatro formas de capital: o capital natural, constituído pela dotação de recursos naturais com que conta um país, um estado, uma comunidade; o capital construído, gerado pelo ser humano, que inclui infra-estrutura, bens de capital, capital financeiro, comercial etc.; o capital humano, determinado pelos graus de nutrição, saúde e educação de

sua população; e o capital social, descoberta recente das ciências do desenvolvimento e entendido como valores e atitudes que garantem a construção de relações de confiança entre os atores sociais de uma sociedade, as atitudes e valores que auxiliam as pessoas a transcender relações conflituosas e competitivas para conformar relações de cooperação e ajuda mútua, ou seja, de reciprocidade, e as atitudes cívicas praticadas que fazem a sociedade mais coesiva e mais do que uma soma de indivíduos.

Acho que, se partirmos dessa perspectiva, poderemos realizar inversões e definir prioridades nos diversos campos da educação, da cultura e da comunicação que ajudariam a enfrentar o paradoxo a que Boaventura Sousa Santos chama de "cheio que nos parece oco".

R.O.I.C.: O senhor foi um dos pioneiros a capacitar gestores e outros profissionais de cultura em Minas Gerais e no Brasil, um campo caracterizado pela transversalidade e pela fluidez de limites. Como foi "desbravar" esse campo e quais as principais dificuldades e experiências que poderiam ser transmitidas para aqueles que pretendem se iniciar nessa atividade?

J.M.B.: Não são poucas as dificuldades. Eu destacaria, em primeiro lugar, o elogio desmesurado à prática e sua ingênua oposição à teoria. Na área da cultura, ainda é dominante uma espécie de "pragmatismo impregnante", que faz do bom senso e do ensaio e erro metodologias de trabalho. Criticar e superar tais posturas, ampliando para uma perspectiva mais praxiológica, não é nada fácil, mas extremamente importante. Outra dificuldade e/ou desafio é o enfrentamento da contradição entre o discurso e a prática com a transversalidade. Desenvolvemos mais a retórica do que fundamos uma nova prática. As corporações e as disciplinas ainda são muito operantes e fornecedoras de identidades e seguranças. Romper com isso não é nada fácil. Por fim, o desafio de romper com a idéia de que, para trabalhar com a cultura, basta gostar das artes. é preciso uma forte e dinâmica formação teórico-metodológica para que se transcendam práticas frágeis, auto-referentes e óbvias.

Meus atuais desafios são os de contribuir para uma efetiva ampliação e aprofundamento da visão e das atitudes para com a cultura. Mais do que nunca é preciso associar às iniciativas de inclusão, cidadania e participação nas esferas públicas da cultura a preocupação com o conceito, com a qualidade do que se faz, com a avaliação do que se fez e com os desdobramentos e continuidades. E isso só é possível com formação continuada.

12º FAM - Florianópolis Audiovisual Mercosul
De 6 a 13 de junho, no CIC
Florianópolis - SC

Entrada gratuita.

Site oficial: www.fam2008.com.br


O 12º Florianópolis Audiovisual Mercosul, o FAM 2008, será realizado em Florianópolis de 6 a 13 de junho. Suas mostras competitivas trazem 20 curtas-metragens, nove produções destinadas à Mostra Infanto-Juvenil e 45 vídeos do Mercosul, além dos nove filmes convidados para a mostra principal de Longas do Mercosul. Com apoio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) através do Funcultural, o FAM 2008 terá sessões - todas gratuitas - ao longo do dia no Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura (CIC).

Também serão realizadas exibições paralelas da Mostra Extra-FAM no Cinema do CIC, com 25 trabalhos de ficção e documentário, sendo 10 deles a aposta do ano para estreitar os laços do Mercosul com o bloco europeu: é a Mostra de Cinema da Finlândia traçando um panorama inédito no sul do país. A agenda ainda contempla homenagens especiais, de âmbito local e nacional, e um dos propósitos fundamentais do evento desde as origens: as mesas de debates do Fórum Audiovisual Mercosul, transmitidas em tempo real pela internet, com a presença de algumas das mais importantes autoridades do setor audiovisual do Brasil, nações vizinhas e visitantes do velho continente.

Marca registrada do festival, a gratuidade de todas as sessões objetiva ainda promover a formação de público e aprimorar a cidadania cultural. Idealizador do evento, ao lado da Associação Cultural Panvision, Antônio Celso dos Santos analisa o sucesso alcançado: "O FAM acabou se tornando uma referência nacional e internacional, já que o público freqüentador do festival tem a oportunidade de assistir, ano após ano, a uma programação diferenciada, de qualidade, repleta de filmes não hegemônicos".

Segundo previsão dos organizadores, o FAM 2008 atingirá a marca de mais de 1.050 produções exibidas ao longo de suas doze temporadas, com muitas premiações, filmes e artistas convidados. As discussões realizadas nos fóruns acerca da produção, distribuição e realização de obras firmam um cenário paralelo, alinhavando espaços de discussão e diálogo que não abrangem apenas o cinema como arte final, mas também um grande painel de fomento ao audiovisual no Mercosul, incluindo temas como o papel das TVs públicas e a cooperação entre os mercados latino-americanos.

Como de praxe, os longas encerram a programação do dia, sempre às 21h30min. Aqui, o cinema catarinense ganha no FAM a estréia de Doce de Coco, de Penna Filho, resultado do prêmio edital Cinemateca do Estado. O rol de longas nacionais abre com Bodas de Papel, de André Sturn, e fecha com Chega de Saudade, última produção de Laís Bondanski (Bicho de Sete Cabeças) e sucesso no Brasil ainda inédito no estado. Passando ainda por Simples Mortais, de Mauro Giuntini e Corpo, de Rossana Foglia e Rubens Rewald. Os parceiros do Mercosul aparecem entre os argentinos La Peli, de Gustavo Postiglione e A Cada Lado, de Hugo Grosso; o chileno Microfilia, de Nehoc Davis; e a co-produção Chile-Argentina-Uruguai Matar a Todos, da Estéban Schroeder.

Com a responsabilidade de colocar Florianópolis na rota dos festivais de cinema pelo país, o FAM nasceu em 1997 como uma iniciativa da produtora Panvision. Após a solidificação do evento, hoje conhecido em diversos países, a produtora conquistou o reconhecimento do público e da classe pelo trabalho de difusão cultural das diversas cinematografias do Brasil e do Mercosul, enfraquecidas pela agressiva divulgação de filmes norte-americanos negociados em pacotes planetários.

Nos primórdios, o FAM era um seminário sobre cinema, promovido com o apoio da Cinemateca Catarinense, a UFSC e a Funcine. Chamava-se Iº Seminário de Cinema e Televisão do Mercosul e tinha por objetivo discutir a legislação e a distribuição dos produtos audiovisuais. Entre os temas propostos, a democratização dos meios de comunicação e o início do processo de massificação do cinema brasileiro na televisão.

O desejo do idealizador do evento, Antônio Celso dos Santos, era promover parcerias entre cineastas e demais produtores culturais com o empresariado de televisão do Mercosul. Outro compromisso, com o desenvolvimento local do setor, veio através da garantia, firmada pelo secretário estadual de cultura, de honrar os prêmios do edital para o cinema catarinense, agora com lançamento anual em meio à programação do próprio FAM.

Santa Catarina foi escolhida pelo Ministério da Cultura (MinC) para implantar, ao lado do Maranhão, um projeto-piloto para criação de um Sistema de Informações Culturais para ser utilizado em todo o Brasil. As reuniões começaram no ano passado. Nos dias 20 e 21 de janeiro, sob o comando da presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Anita Pires, está sendo realizado novo encontro, dessa vez em Florianópolis. A equipe quer formatar um sistema que forneça uma boa visão da economia da cultura brasileira e dos impactos das políticas públicas, além de um mapeamento do patrimônio cultural brasileiro e até um cadastro de profissionais e organizações da cadeia produtiva cultural brasileira.

Entre os participantes da reunião, além da FCC e MinC, representantes da Udesc, UFSC, Secretaria de Estado de Planejamento, IBGE, Fapesc, Instituto Itaú Cultural e Instituto Cultura em Rede. Coordenador do Mapa Cultural da Argentina, Julio Villarino apresentou o Sistema de Informação Cultural da Argentina (SInCA). Já a economista Andréa Gomes, que trabalha na Gerência de Estudos e Pesquisas da Secretaria de Políticas Culturais do MinC, falou sobre o que já vem sendo feito pelo MinC. Acompanhe a entrevista concedida neste dia 20 de janeiro, no intervalo do encontro.

Pergunta: Vocês estão trabalhando na formatação de um sistema de informações culturais para o Brasil. Ele vem sendo pensado há muito tempo?

Andréa Gomes - Na verdade, existe uma demanda do Ministério que não é nova, ela já vem de outra gestão, da gestão (do ex-ministro Gilberto) Gil, que é subsidiar o ministério com informações estatísticas culturais. Essas informações seriam úteis para a elaboração de políticas no Brasil todo. E com a Conferência Nacional de Cultura e a demanda dos estados e dos municipais, a gente realmente levou o projeto adiante.

Pergunta: Atualmente não existe uma sistematização de dados de cultura no Brasil?

Andréa Gomes - Existem trabalhos dispersos. Na Gerência de Estudos e Pesquisas da Secretaria de Políticas Culturais do MinC, nós trabalhamos com a organização e a sistematização dessas informações e, também, com políticas voltadas ao apoio à produção de informação. Existem, por exemplo, pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a pesquisa do Munic (Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE), os sistemas indicadores, que são frutos também do nosso trabalho através de acordos de cooperação e de propostas que a gente leva, apontando dados que a gente necessita obter do país em relação à cultura.

Pergunta: Por que é importante criar esse sistema de informações?

Andréa Gomes - O sistema acaba sendo uma reunião de informações, só que num âmbito imenso, bem grandioso, porque a gente pretende trabalhar com outros estados e a idéia é que, no futuro, todos estejam participando. Preliminarmente, alguns já têm condições de participar, como Santa Catarina, que pretende trabalhar com o próprio sistema estadual deles e que vai subsidiar também o sistema nacional. Tem o Maranhão, Minas Gerais e outros estados que já estão trabalhando na formação de seus sistemas. Como eu comentei, essas informações precisam estar reunidas em função dos estudos, em função da sociedade civil também, porque é legítimo, porque as ações têm que passar pelo controle da sociedade, é recurso público. Nesse sistema a gente pretende passar pra sociedade informação a respeito de orçamento, a respeito de leis, do que são possibilidades através de incentivo público, também. Paralelamente, a gente pretende tratar de mapeamentos de patrimônio imaterial, ou seja, o que tem em cada estado de produção, de cultura popular. E uma agregação. A gente vai trabalhar com eventos, também, e isso também pode ser utilizado pela sociedade civil. é amplo. O sistema é bem amplo.

Pergunta: Como é que Santa Catarina entrou no projeto-piloto?

Andréa Gomes - A proposta inicial partiu do Maranhão, e Santa Catarina foi pautada de forma muito feliz pelo Alfredo Manevy (atual secretário executivo do MinC), justamente por estar numa região oposta e ter características opostas e também por ser um estado engajado no trabalho na cultura. Então, seria uma forma de pautar duas regiões diferentes, com características diferentes.

Pergunta: Existe previsão de data para o sistema funcionar?

Andréa Gomes - Nós estamos trabalhando fortemente nessa implantação. Embora ele não esteja concreto, a gente está na fase de sofrimento mesmo, de elaboração, de idéias, contratação de pessoas, de técnicos, de qualificação de pessoal. Nós vamos trabalhar durante todo esse ano nesse projeto. A idéia é que ele seja implementado até o final do ano, até novembro. Se isso não for possível, a gente pretende estar totalmente avançado, bastante estruturado até esse período para, no início do ano que vem, ele chegar a ser implementado.

Pergunta: Já com a coleta de dados?

Andréa Gomes - Sim, pelo menos parcialmente. Para a coleta total seria impossível passar uma data agora, porque é muita coisa, mas a gente tem que ter uma implementação inicial, mesmo que com dados parciais.

Pergunta: Cada estado vai ficar responsável pela contratação de pessoal?

Andréa Gomes - Os estados vão trabalhar, a princípio, com a implementação de seus sistemas estaduais. No caso do Maranhão e de Santa Catarina, vai envolver recurso do governo federal, através do Ministério da Cultura, e uma parte de recurso estadual. é um acordo.

A Fundação Catarinense de Cultura (FCC) abre nesta quinta-feira, dia 3 de julho, às 19 horas, no Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Sousa, em Florianópolis, as exposições "Ecos da Pele", com esculturas de Ilca Barcellos, e "Translúcidos", com pinturas de Dirce Körbes.

Apresentando 16 telas de grandes dimensões, Dirce Körbes busca na recombinação de materiais e na atualização de técnicas as possibilidades para sugerir leveza, opacidade e transparência. Trabalhando com uma grande diversidade de texturas e com cores suaves, procura as combinações adequadas para esta série "Translúcidos". Entre veladuras que sugerem vestígios de imagens, como ressonâncias apenas, se delineiam perfis indefiníveis, emergem figuras esboçadas ao limiar da desmaterialização. Entre rabiscos e pinceladas soltas, transparecem vultos envoltos em silêncio, despersonalizados, alheios, sugerindo transeuntes urbanos.

Para Anita Prado Koneski, professora de Filosofia da Arte do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), o que esse jogo das silhuetas humanas vela e desvela é a alternância entre a realidade e nossas relações com a mesma. "Ali está a nossa existência e suas sombras. As sombras são o que há de obscuro na realidade e o que faz das pinturas de Dirce uma filosofia através da arte. Um mergulho profundo no fato de que "estamos" radicalmente instalados no mundo", afirma.

Dirce Körbes vive e trabalha em Florianópolis, é formada em Artes Plásticas e pós-graduada com especialização em Pintura e em Linguagem Plástica Contemporânea pelo Centro de Artes da Udesc. Pintora e desenhista, iniciou suas atividades artísticas na década de 1980. Sua trajetória inclui exposições individuais e coletivas, além de participações em simpósios no Brasil e no exterior.


A mostra "Ecos da Pele" expõe um conjunto de peças cerâmicas desenvolvidas por Ilca Barcellos ao longo de 2007 e 2008. A multiplicação e gênese de seres fantásticos a partir da superfície/pele de outros é a temática que perpassa as obras apresentadas e relaciona-se intimamente com seu processo de criação. Através do contato íntimo com a pele/superfície da argila, ecoam e transbordam seres que são escutados pelas fissuras, pelos estiramentos, pelas ranhuras, pelas cicatrizes, pelas pregas e circunvoluções; que se fazem, se desfazem e se re-fazem num processo dinâmico ao longo do ciclo vital.

O processo de criação emerge da pele/textura, que se manifesta por ondas de convulsão visíveis pelas formas, pelos volumes e pregas. A vida em si, com a sua força vital, se manifesta como ondas que varrem a superfície ou a pele do ser-mãe. A pele surge com um arquipélago de possibilidades que muda continuamente a sua plasticidade, cujo resultado é a diferenciação de ilhas de vida, ou de seres, que se diferenciam, se relacionam e se deslocam do corpo materno para o reconhecimento de seu habitat. Neste universo fantástico, em que as temáticas da maternidade, da fertilidade e da expansão da vida pronunciam-se intensamente, tudo é possível: os novos seres que emergem da superfície migram livremente sobre a superfície matricial e deles podem brotar outros seres.

Nascida em Pelotas, no Rio Grande do Sul, Ilca Barcellos foi professora de biologia durante 27 anos, com mestrado em Botânica pela Université de Pierre et Marie Curie (França). Desde sua aposentadoria, há dois anos, dedica-se intensamente à cerâmica escultórica, paixão que permanecera por muito tempo latente. Atualmente desenvolve seus trabalhos nas Oficinas de Arte da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) com Betânia Silveira e no atelier da ceramista Silvina Gallo. Neste breve contato com a cerâmica, Ilca Barcellos já expôs individualmente no Espaço Oficinas do Centro Integrado de Cultura (CIC), em julho de 2007 e, também, foi premiada no Salão do Jovem Artista - Prêmio Aquisição do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), em janeiro de 2008. Em setembro, viaja para o Canadá para realizar uma exposição intitulada "La Génetique hédoniste", na Maison des Arts et de la Culture de Brompton em Sherbrooke (Canadá).

O QUê: Abertura das exposições "Ecos da Pele", de Ilca Barcellos, e "Translúcidos", de Dirce Körbes.

QUANDO: quinta-feira, dia 3 de julho, às 19 horas. Visitação até 3 de agosto, terça a sexta, das 10h às 18h, sábados e domingos, das 10h às 16h.

ONDE: Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Sousa, Praça 15 de Novembro, 227, Centro, Florianópolis. Fone: (48) 3028-8090.

QUANTO: gratuito.

site: www.mhsc.sc.gov.br