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Estão abertas até o dia 1º de setembro as inscrições para a edição 2008 do Edital Prêmio Cinemateca Catarinense / Fundação Catarinense de Cultura. A premiação deste ano alcançará valor recorde, com o Governo do Estado distribuindo R$ 1,9 milhão para 17 projetos selecionados em seis categorias diferentes. Os editais estão disponíveis aqui no site da Fundação Catarinense de Cultura, no link "Downloads", e as inscrições podem ser feitas via correios ou diretamente no setor de protocolo da FCC, no Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis, durante o horário de expediente do serviço público estadual.

No dia 9 de setembro, a Comissão Permanente de Licitações da FCC abrirá os envelopes para conferência da documentação, e encaminhará os habilitados para a comissão julgadora. O resultado do concurso será divulgado, através da imprensa e no Diário Oficial do Estado, em até 60 dias após a abertura dos envelopes.

Em 2007, foram contemplados 13 projetos, totalizando um valor de R$ 1,6 milhão. "A ampliação da premiação e do número de agraciados é importante para estimular ainda mais a produção cinematográfica catarinense, que já vem crescendo significativamente nos últimos anos", afirma a presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Anita Pires.

Neste ano, o prêmio principal continua sendo para a produção de um longa-metragem, no valor de R$ 900 mil. Também serão contemplados a produção de três documentários de média-metragem no valor de R$ 80 mil cada, cinco curtas-metragem no valor de R$ 100 mil cada, quatro vídeos de curta-metragem no valor de R$ 40 mil cada, e a elaboração de dois roteiros de longa-metragem no valor de R$ 15 mil cada, e de dois roteiros de curta-metragem no valor de R$ 10 mil cada.

Esta é a quinta edição do Prêmio Cinemateca Catarinense/Fundação Catarinense de Cultura. Em 2001, na primeira edição da premiação, foram distribuídos ao todo R$ 1.100.000,00, dos quais R$ 800 mil foram destinados ao longa-metragem "Seo Chico - Um Retrato", de José Rafael Mamigonian. Em 2002, foram distribuídos R$ 1.530.000,00, dos quais R$ 900 mil foram destinados ao longa "A Antropóloga", de Zeca Pires. Para a edição de 2005, o Governo do Estado destinou R$ 1.488.000,00, e o longa-metragem selecionado para receber R$ 760 mil foi "Doce de Coco", de Penna Filho (foto). E em 2007, o prêmio total foi de R$ 1,6 milhão, dos quais R$ 900 mil foram para o longa-metragem "Querido Pai", de Chico Faganello.

Todo o processo será acompanhado pela Comissão de Organização e Acompanhamento do Edital (COA), que receberá R$ 50 mil para cobrir os custos administrativos do Edital, entre eles transporte e hospedagem da comissão julgadora. Em 2007, o prêmio teve 128 projetos inscritos, contra 101 em 2005, 55 em 2002 e 51 em 2001.

O Governo do Estado de Santa Catarina, através da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte,

Fundação Catarinense de Cultura e Museu Histórico de Santa Catarina

convida para o coquetel de abertura da exposição

PRESENçAS: o ato de pintar

Curadoria de Rubens Oestrom

Artistas: Anelise Junqueira Bertoncini

Dolma Magnani de Oliveira

Elvira dos Santos Sponholz

Jussara Isabel Romero

Katia áurea da Costa

Ligia Czesnat

Mariza do Amaral

Marivone Dias

Sandra Cavallazzi

Verceles Amâncio

Dia 05 de março de 2009

19 horas

Museu Histórico de Santa Catarina

Palácio Cruz e Sousa

Visitação: 06 de março a 05 de abril

Terça a Sexta das 10h às 18h

Sábado e Domingo das 10h às 16h

Presenças: o ato de pintar

Neste grupo de pesquisa artística, prevalecem elementos do neo-expressionismo dos anos 80. O esforço concentrou-se mais na transformação do suporte, técnicas com decalque plástico, sobreposição de gestos. A pintura preta e branca talvez tenha se originado nos exercícios de desenho a carvão.

A pintura de camadas nos leva a um processo meditativo, onde os tons que se fundem nos fazem refletir sobre o enigma da pintura orgânica, seja ela figurativa ou não.

Grande formato ou pequeno formato, qual é a diferença? Na tela grande você se envolve de corpo inteiro, no formato menor, você usa praticamente a mão. Isso nos leva a pensar o quanto pode ser complexo o contexto da pintura.

Dividir conhecimento requer muita habilidade. Não só o estabelecido nos abre caminho à obra de arte, é necessário transcender a arte consumada. Esta pintura não deseja mais discutir sua vanguarda, pois seu ímpeto está no auto-conhecimento, no espaço-tempo, na subjetividade e no prazer de quem está o pincel na mão.

Rubens Oestroem

PRESENçAS

* Ligia Czesnat

Linhas e cores se misturam numa profusão de configurações e nesta diversidade se evidência uma unidade insustentável, entre caligrafias, diagramas, cujo esforço, parece assegurar um processo coletivo de superação, para não se tornarem mais um código facilmente e decifrável.

O artista é esse personagem estranho que coloca para si a tarefa de atravessar o abismo, para então no caos, instaurar um nascimento, pois o ato de pintar é fazer nascerem mundos e seu efeito é fazer surgir presenças.

Este é um grupo de artistas, que vem trabalhando incessantemente em seus projetos artísticos pessoais, e que juntos se articulam na diversidade, anos seguidos. Cada um possui sua senha, ou seja, um fluxo do sensível, que informa as diferentes maneiras de ver a forma, o fundo, o espaço, a cor e a luz, na qual se introduzem múltiplas modulações. Assim, buscando encontrar uma convergência para forças tão dispares, o jogo que surge faz perceber que sua vantagem está justamente no constante desfazer-se, no desequilíbrio, para então, refazer-se, permitindo captar-se o regime da cor como o ponto pictural comum.

Com advento do uso exclusivo da cor como recurso de preenchimento do espaço, inaugura-se a emergência do olhar da pintura exclusivamente sobre a superfície da tela. Essa decisão implicou no deslumbramento e no desvio da cor, que está serviço agora da abertura de um espaço de outra natureza, isto é, o espaço em que a cor modula a luz.

São faturas que procuram preencher o vazio da tela branca, desenhos rabiscam fantasmas, paisagens, retratos, e dividem a tarefa comum de transformar em forma a tela informe, recolocando o eterno jogo de solucionar questões irresolutas da arte. As habilidades destas artistas não se resumem apenas na obra como cintilações do sonho, mais como também remetem pensar nos sentidos e nas inquietações de cada uma e das particularidades de técnicas que se evidenciam no manuseio ora da cor, ora da forma, presentes muita vezes, nas repetidas e delicadas veladuras de Marivone Dias; do eterno jogo sutil entre cores pálidas e luz de Jussara Romero; na lucidez plástica no uso e na depuração das cores saturadas e contrastantes de Sandra Cavallazzi; no esforço continuado de fazer da paisagem arborescente uma experiência de cores e de novos materiais de Dólma de Oliveira; o esforço de desfazer a semelhança para fazer surgir a imagem figural de Kátia Costa; da energia de iniciante atenta e caprichosa de Annaluise Junqueira Bertoncini; Euvira Santos Sponholz com o jogo táctil de cores matéricas; Mariza do Amaral revisita um gênero pictórico esquecido o auto-retrato, buscando a estranheza no processo de identificação; Vercelles Amancio cujo processo criativo trouxe tensões inovadoras ao grupo; e eu Ligia Czesnat a pretexto de fazer dos retratos presenças e não representações, acrescento a preocupação de trabalhar em branco e preto, no qual procuro pensar as questões relativas à grisalha.

* Professora Aposentada do Departamento de História da Universidade Federal de santa Catarina.

A Fundação Catarinense de Cultura (FCC) abre nesta segunda-feira, dia 12, às 19 horas, no Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina (MIS-SC), em Florianópolis, a exposição "O Mundo Mágico do Circo". Formada por fotografias de Márcio Henrique Martins, desenhos de Hassis e vídeos de Ronaldo dos Anjos, a mostra escolheu o circo para abordar o tema "A imagem e a relação com a sociedade".

As fotografias de Martins foram há poucas semanas, em duas cidades catarinenses que estava sendo visitadas por circos de pequeno porte: Gaspar, onde estava o Circo Di Tari, e Guabiruba , no Circo Irmãos D" Jully. "São circos realmente pequenos, tocados apenas pela família. A mulher vende o bilhete, o marido recebe, a filha vende o algodão-doce enquanto o irmão troca de roupa para se apresentar, pouco antes do pai fazer o mesmo", conta o fotógrafo.

Márcio viajou acompanhado do diretor de cinema Ronaldo do Anjos, que filmava enquanto o colega fotografava. O resultado foi a produção de um vídeo, que poderá ser visto na exposição, em uma televisão instalada na entrada do museu, com projeção contínua. Também será exibido outro vídeo de Ronaldo, "Viva o Circo", filmado 1989, e que faz um panorama dos circos mambembes que percorriam Santa Catarina na época. Premiado, "Viva o Circo" venceu as categorias de melhor documentário e melhor direção no Festival Brasileiro de Vídeo Amador de Gravatal.

Para completar a mostra, serão exibidos desenhos do artista catarinense Hassis (1926-2001). Eles foram retirados do álbum "Respeitável Público...", de 1982, cedido pela Fundação Hassis, e igualmente têm como temática o circo.

A exposição "O Mundo Mágico do Circo" é participante da 6ª Semana Nacional de Museus, que será realizada em todo o Brasil de 12 a 18 de maio. Com o tema "Museus como Agentes de Mudança Social e Desenvolvimento", a Semana busca promover uma interação dos museus com a comunidade local, por meio do papel que exerce a instituição museológica na conscientização do cidadão sobre sua história, seu passado, seus direitos e valores e suas diretrizes para o futuro.

O QUê: Exposição "O Mundo Mágico do Circo"

QUANDO: abertura 12 de maio (segunda-feira), às 19 horas. Visitação até 26 de maio, diariamente, das 13 às 22 horas. Visitas monitoradas podem ser agendadas pelo telefone (48) 3953-2327.

ONDE: Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina (MIS/SC), Centro Integrado de Cultura (CIC), Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica, Florianópolis.

QUANTO: gratuito.

Com o objetivo de reconhecer a atuação de catarinenses nos movimentos de resistência ao golpe militar, a Assembléia Legislativa realizou na quinta-feira (29) uma sessão solene em alusão aos 40 anos dos Movimentos Sociais de 1968. A homenagem, feita em parceria com a Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e a ONG Cidade Futura, contou com a participação do jornalista e escritor Zuenir Ventura, que lançou o livro "1968 - O que fizemos de nós". As galerias do Plenário Osni Régis foram ocupadas por jornalistas, escritores, líderes estudantis e políticos que vivenciaram "os anos de chumbo", bem como de jovens alunos matriculados em escolas da capital.


Durante o evento nove personalidades receberam uma placa comemorativa: Sérgio da Costa Ramos (que discursou por todos os homenageados - veja abaixo o discurso na íntegra), Salim Miguel, Marcílio Krüeger, Rogério Queiroz, Derley de Lucca, ex-senador Nelson Wedekin, Romário José Borelli (que cantou uma música de sua autoria - veja abaixo a letra) e o ex-deputado estadual Roberto Motta (in memoriam), além do escritor mineiro Zuenir Ventura.


Para o deputado Edison Andrino, que propôs a homenagem, quando se fala em 1968 vem à memória acontecimentos que estão no nosso inconsciente da sociedade que ainda hoje é motivo de estudos e pesquisas. Muitos fatos que aconteceram naquele período justificam mudanças nos costumes que influenciaram gerações. "Esta época foi balizada por acontecimentos que revolucionaram a ciência, como a primeira cirurgia cardíaca. Foi um tempo de transformações para a vida das pessoas, de modernização e liberação da sociedade", declarou.


A constante agitação política e social que o mundo passava também foi mencionada pelo parlamentar. "O país inicia as manifestações populares e as lutas pelo fim da ditadura militar, mas junto com elas também iniciam os conhecidos anos de chumbo. Que balanço se pode fazer de um ano tão carregado de sonhos?", questionou Andrino.


Anita Pires falou em nome da Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Ela relatou que esta homenagem é cheia de emoção porque reuniu pessoas que caminharam juntas na mesma época, com os mesmos sonhos, em uma época de muito sofrimento.


A presidente da FCC aproveitou a oportunidade para falar diretamente aos estudantes que assistiram à sessão solene. Conforme Anita, além de ser uma homenagem a todos os companheiros, também são eles que devem conhecer esta história e exercer a cidadania. "Quando falam sobre 1968 tenho a lembrança de que tínhamos uma revolta existencial, que fez romper com o machismo, autoritarismo e principalmente o rompimento com a guerra, lutando pela construção de uma sociedade solidária e fraterna. A nossa palavra de ordem era faça amor e não faça a guerra e cantávamos a canção quem sabe faz a hora e não espera acontecer", relatou.


Em nome dos homenageados, o jornalista Sérgio da Costa Ramos falou sobre as censuras sofridas pelos intelectuais da época. "A palavra, a prece, a música, tudo passou a ser negado. O bicho da ditadura não era folclórico ou um bicho do bem. O bicho da ditadura era o carcará que pega, mata e come", frisou.


Presidente da Cidade Futura, Paulo Teixeira mencionou a dificuldade que tinham de fazer uma pequena reunião e manifestar o que seria os desejos naquele período. "Acreditávamos que naquela reunião poderíamos mudar não só a nossa a vida, mas a sociedade brasileira, as leis desse país, a condição humana das pessoas que necessitavam das outras para ter uma vida saudável. Tínhamos orgulho de ser militantes das causas que acreditávamos. Foi um ano de muitos sonhos", concluiu.

1968 - O que fizemos de nós


Zuenir Ventura lançou seu livro "1968 - O que fizemos de nós" durante a sessão solene. Ele fez uma pequena explanação sobre a sua obra, na qual declarou que se sentia cobrado a relatar o que aconteceu naquele ano e a obra acabou sendo um segundo balanço sobre o período. "Não quero ser saudosista, é um olhar generoso, mas não saudoso. O legado de 1968 é uma herança positiva muito importante deixada por quem viveu aquele ano, a quebra dos valores e as mazelas do país não podem ser remetidas a 1968", ressaltou.


O escritor também traçou um paralelo entre a geração de 1968 e a geração de 2008. "A geração de 1968 é muito mais aguerrida e solidária, enquanto a geração de hoje é mais tímida e voltada para si", refletiu.

Fizeram acontecer

(Sérgio da Costa Ramos)

Neste maio de 2008, de céu azul e plenilúnios, recebi de um repórter do etéreo, desses que fazem questão de ouvir "o outro lado", a notícia de que o Papa Gregório XIII, o do calendário, não se conforma com aquele ano incompleto, o de 1968.

Debruça-se, até hoje, aflito, sobre a tragédia de um de seus filhos, o Ano da Graça de 1968. Aquele ano que não teria terminado, segundo a antológica reportagem de um arguto filósofo do cotidiano brasileiro, Zuenir Ventura.

O que teria acontecido com o ano de 1968 no Brasil?

Para resumir o sinistro hiato do calendário, recuperaram-se as imagens da Agência Nacional, capturando a "fala do trono" das 19 horas do dia 13 de dezembro de 1968. O ano, que começara com a esperança de uma primavera institucional, sob os acordes de "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, tingia-se de chumbo, com as duas interjeições agudas do preâmbulo de "O Guarani", aquele prefixo da "Voz do Brasil", sempre confundido com as más notícias.

Na tela, em preto e branco, delinearam-se duas figuras, o locutor oficial Alberto Cúri e o Ministro da Justiça, Luiz Antônio da Gama e Silva.

Ali, 99 anos depois da estréia de O Guarani no Scala de Milão, um libreto liberticida e uma ópera obscura cavaram frêmitos de repulsa no peito do maestro Carlos Gomes, desencarnado, mas não insensível. Os prelúdios do Guarani invadiram a atmosfera da Tropicália, esquartejando a frustrada brandura do regime e recrudescendo a ditadura.

O ano foi brutalmente interrompido, os verbos deixaram de ser flexionados no presente e no futuro. Um Big-Bang abriu um buraco negro na Ordem Jurídica, um golpe no golpe. Um Ato Institucional se sobrepôs à Constituição e, na prática, revogou-a em todos os capítulos civilizatórios, de garantias e direitos individuais.

à medida que expelia o seu veneno, lendo o édito "legalicida", o ministro Gaminha tremia sob os óculos um dia partilhados com Joseph Goebbels e Heinrich Himmler, capos do cabo Hitler. Fez o país refluir até a Idade Média e sob a noite de dezembro, já não se esperava o Messias, mas o Príncipe das Trevas.

De repente, antes das 20 horas daquele dia 13, todos os brasileiros vestiram as roupas do bancário K, de "O Processo", de Franz Kafka. Todos se tornaram suspeitos e processados, tendo que provar a própria inocência. Processados sem ter direito a conhecer os autos do processo. Quanto mais procuravam saber sobre os seus processos, mais os brasileiros se comprometiam.

O AI-5 bastava-se pelo parágrafo em que excluía de "quaisquer apreciações judiciais" os atos fundados "neste édito". Perseguidos por tribunais misteriosos, por uma culpa incerta e não formada, os brasileiros encarnados no bancário K. agravavam a sua pena sempre que tentavam se defender.

Para quê defesa? Para quê o contraditório? E para quê, se todos eram mesmo culpados? Se a sentença de morte já estava escrita?

Todos os aqui hoje homenageados foram réus de um governo pária, que cuspiu em todas as fontes e frontes do Direito. Era proibido permitir - o que quer que fosse, nesta República de um só artigo e de uma única voz: a do general-rei.

Pois era preciso calar jovens estudantes, jornalistas, professores, profissionais liberais, funcionários públicos, era preciso, enfim, calar o povo brasileiro. Calar as guerreiras de Atenas contra os generais de Esparta - nossas Anitas, herdeiras da Garibaldi, como a Anita Pires e a Derley Catarina de Lucca.

Derley Catarina, líder estudantil, Derley militante da AP, Derley presa e torturada, Derley ressurgida, como sinônimo de ética, de bravura, de resistência, de reserva moral.

Era proibido pensar e cultivar uma utopia - como era norma na vida do patriota líbano-biguaçuense Salim Miguel, que ficou literalmente "Nur na Escuridão", a caminho de se tornar, hoje. um dos mais importantes intelectuais e escritores do país. A violência da ditadura contra a palavra está resumida num episódio de sua vida. O incêndio de sua livraria, livros ardendo numa fogueira na Praça XV, numa cena brechtiana.

Era proibido o livre-pensar e o jovem idealismo de Rogério Queiroz, presidente da União Catarinense dos Estudantes, e era condenável a valente militância da juventude católica de Marcílio Ramos Krieger, alma da AP em Santa Catarina, que pensava numa Teologia social, capaz de imaginar um melhor destino para o homem enquanto este ainda habitasse a Terra.

Tudo isso era proibido. Como era proibida a destemida atuação de um jovem advogado de sindicatos e, depois, de um espadachim imbatível na defesa dos direitos humanos e dos presos políticos, como o hábil esgrimista Nelson Wedekin.

A palavra, a prece, a música. Tudo passou a ser renegado. A música de Romário José Borelli, um homem de teatro, um criador, um bandonéon que Piazzola acolheria, emocionado, enquanto a Nova Ordem tentava transformar os gemidos do seu instrumento no miado de um gato escaldado, eviscerado e perseguido.

O bicho da Ditadura não era a folclórica e doce bernunça, bicho do Bem, que engolia sem matar e fumava sem tragar. O bicho da Ditadura era o Carcará. Que, como dizia o refrão: Pega, mata e come!

O Carcará não se contentava em comer e calar consciências. Censurar redações, canções e obras de arte. Precisava matar sua fome "do absurdo" e levar Roberto Motta - jovem a quem a tortura psicológica não deixou de cobrar o seu preço kafkiano.

E, no entanto, meu caro Zuenir Ventura, "mais que nunca era preciso cantar e alegrar a cidade," como aliás, cantava a musa Nara Leão, interpretando a clássica e premonitória "Marcha da Quarta-Feira de Cinzas", protesto de Carlinhos Lira e do perseguido poetinha Vinicius de Moraes.

- Acabou nosso Carnaval/ Ninguém ouve cantar canções/ Ninguém passa mais brincando feliz/ E nos corações,/ Saudades e cinzas foi o que restou...

Para consolar o Papa Gregório XIII, porém, poderíamos dizer, hoje, que em nenhum outro ano floresceram tanto as artes, a literatura e a música. A "fechadura" estimulou os vapores artísticos a saírem das panelas de pressão e, transpassados de dor, os corações se puseram a cantar: o tropicalismo, que nascera suave e polimorfo com "Baby", de Caetano Veloso e, "Geléia Geral", de Gilberto Gil, VESTIU-SE para a guerra com "Quem te viu, Quem te vê", "Apesar de Você" e "Roda Viva", de Chico Buarque, o explosivo "Disparada" e aquele que é o hino de todos os protestos, "A Caminhada", ou "Para Não Dizer que Não falei de Flores", de Geraldo Vandré. Entre os sucessos da época, "Travessia", de Milton Nascimento, "Ponteio", de Edu Lobo, "Alvorada", de Cartola, "Andança", de Danilo Caymmi, e o belo e intimista "Sabiá", de Chico e Tom, uma "Canção do Exílio" avant-la-letre, como se os dois já estivessem prevendo a diáspora dos brasileiros, e já chorando pelo próprio desterro: "Vou voltar4/ Sei que ainda vou voltar4/ Para o meu lugar....é lá que eu hei de ouvir cantar uma sabiá..."

E, "Apesar de Você ", Gama e Silva", inspirador do AI-5, e apesar da Ditadura, prosperaram as artes, os espetáculos, a literatura, o teatro, com uma luminosa resistência cultural, estimulada pelos gritos pré-AI-5, como "Liberdade, Liberdade", "Arena conta Zumbi", "O Rei da Vela" e a verdadeira revolução artístico-lítero-musical que se seguiu, num ano que marcaria o relançamento da criatividade "antropofágica" de Oswald de Andrade, num universo reprimido, mas indomável.

O que nos consola, e ao papa do Calendário, é que 1968 finalmente terminou. E terminou bem.

Tem por saldo um período de iluminismo da inteligência e de prevalência do humanismo sobre o obscurantismo.

Sabíamos que não bastava esperar. Era preciso fazer a hora.

Os desafios de hoje são outros. Os alimentos tratados como ações nas bolsas de mercadorias e futuros, o petróleo borbulhando preços especulativos, a Amazônia cobiçada pelos que já destruíram o Mundo duas vezes. A Internet será mesmo a sucedânea de um "Grande Irmão" democratizado? O Google é o sábio supremo? E a Ecologia, deve ser preventiva ou teleológica?

Os jovens, meu caro homenageado Zuenir Ventura, é que saberão nos responder.

Esperemos que eles não... esperem. Que saibam fazer a hora para antecipar o acontecer.

Não está aí, Zuenir, mais um motivo para um terceiro livro?

XXXXXXXXXX

1968

(Romário José Borelli)

Naquele tempo as palavras tinham asas

E escapando por janelas e frestas das casas

Iam voando, murmurando, sobre os vales

Sobre os rios, sobre os campos e florestas

Naquele tempo as palavras tinham cores

E cobriam de repente as cidades com flores

Iam pintando, murmurando, sobre os cenhos

Sobre as bocas, afastando as tempestades

Naquele tempo as palavras tinham fogo

E acendiam nos lares a ternura em todos

Iam queimando, murmurando, sobre as camas

Nos cabelos, destinos da loucura

Naquele tempo as palavras davam vivas

E bebiam nas taças madrugadas festivas

Iam cantando, murmurando, nas tavernas

Nos poemas, nas estrofes das baladas.

Naquele tempo as palavras tinham ninhos

E investiam disparadas com lanças contra moinhos

Ian lutando, murmurando, cavalgando,

Tresloucadas, mensageiras de esperanças.

Mas de repente as palavras sem fronteiras

Acordaram entre muros, assustadas, prisioneiras...

Vieram juízes com mordaças,

Com sentenças no papel

Homens com tochas e lenha

Ah, quantos dias de fel!

Arrastando as correntes, murmuradas com segredo

As palavras tinham senhas, ah quantas noites de medo!

Quanta agonia, para abrir de novo as asas

Para replantar as flores e reconstruir Babel.

Devido ao sucesso e a grande procura , estão abertas as inscrições para segunda turma do curso à distância de gestão de museus, que será realizado entre 06 de abril e 8 de agosto. Desta vez serão oferecidas 30 bolsas com 30% de desconto para os membros do ICOM-BR que estiverem com a anuidade em dia.

O curso é uma realização da representação da UNESCO no Brasil, que tem como meta contribuir com a capacitação de profissionais atuantes na área museológica e difundir conceitos e técnicas contemporâneas de gestão destas instituições.

O conteúdo terá como base a publicação Como Gerir um Museu - Manual Prático, chancelado pela UNESCO Brasil, que apresenta uma visão geral das práticas de organização e administração de um museu. Este material está disponível em português, inglês, francês, espanhol, árabe e russo.

As aulas serão ministradas (pela internet), por meio da plataforma de educação à distância da Duo Informação e Cultura, empresa sediada em Belo Horizonte e também responsável pela coordenação técnica do curso. O material didático foi produzido pelo ICOM - Conselho Internacional de Museus, parceiro da iniciativa.

Estará em pauta as seguintes aulas: O Papel dos Museus e o Código de ética Profissional; Gestão do Acervo; Inventário e Documentação, Conservação e Preservação do Acervo; Exposição, Exibições e Mostras; Acolhimento do Visitante; Educação do Museu no Contexto das Funções Museológicas; Gestão do Museu; Gestão de Pessoas; Marketing; Segurança e Prevenção de Acidentes do Museu; e Tráfico Ilícito.

Além das disciplinas que envolvem textos e debates, os alunos poderão participar de quatro chats , com a mediação de profissionais convidados.

Inscrições através do portal www.duo.inf.br .

Informações sobre taxa e outros detalhes no : Duo Informação e Cultura (www.duo.inf.br) - (31) 3224.6700 ou pelo e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. .