O mercado brasileiro de animação nunca esteve tão aquecido quanto agora. Coproduções com gigantes dos desenhos animados - como a Austrália e o Canadá -, além de editais específicos para o setor, do Ministério da Cultura e Fundação Padre Anchieta, dão a dica de que este será mesmo o "ano da animação", como está sendo dito no meio. Enquanto Mauricio de Sousa finaliza o longa-metragem em 3D do personagem Horácio, a produtora TV Pingüim se prepara para lançar a série Peixonauta na TV por assinatura, mesmo caso de Escola pra Cachorro, da Mixer. Uma coprodução entre Brasil, Austrália e Espanha, a segunda temporada de Princesas do Mar, do brasileiro Fábio Yabu, já está pronta para estrear.
E, para completar, a TV Rá Tim Bum, canal a cabo da Fundação Padre Anchieta dedicado às crianças, prepara o lançamento de 19 séries, produção mais do que expressiva para a sua pequena fábrica de desenhos na sede da TV Cultura. "Agora entramos numa situação de ou vai ou racha no mercado de animação do Brasil. A animação entrou na pauta", avalia o diretor de projetos especiais do canal, Mauro Garcia. "é a área do audiovisual que mais se profissionalizou no País", completa o gerente de produção do canal, Mário Sérgio Cardoso.
Numa mesma sala nos estúdios da água Branca, o artista plástico Sérgio Esteves dá vida ao narrador de Papel das Histórias, ao mesmo tempo que o animador Cleber Marchetti sincroniza a dublagem (lip sync) que o padeiro e apresentador Olivier Anquier fez para a traça francesa que tenta devorar um Portinari em Traçando Arte. São duas novas séries que dão a dimensão do sortimento de ideias e pesquisa de formato que a TV Rá Tim Bum abriga hoje, quando chega ao quarto ano de vida. "Depois de toda a digitalização, estamos buscando formas mais artesanais de construção para os desenhos", anota Garcia.
Ele fala especificamente de Papel das Histórias, um deslumbramento de imagens que vai contar fábulas de La Fontaine em 13 episódios, de 7 minutos cada um. Os personagens e os cenários foram feitos de papel cartão, fotografados, e animados no computador por Esteves, que domina todo o processo. "A ideia surgiu quando eu fui dar uma oficina de bonecos na periferia, e faltou espuma. Para não perder a aula, resolvi usar um material mais barato", lembra ele, que se diverte ao constatar que para produzir os dois primeiros episódios da série gastou R$ 100 em papel.
O esquema de trabalho de Esteves e do pessoal da TV Rá Tim Bum pode ser chamado de heroico se comparado aos grandes estúdios americanos, por exemplo. Para se ter uma ideia, 500 pessoas chegam a trabalhar ao mesmo tempo num desenho como Wall.E. O avanço da computação gráfica tornou o processo muito mais rápido e melhorou a qualidade do que se vê na tela, mas o trabalho continua sendo braçal, basicamente - daí, o fato de que muitos estúdios estão buscando mão-de-obra em países como índia e China. Outro dado é que mesmo o computador mais potente leva mais de 80 horas para processar uma cena de animação de apenas 3 segundos em 3D. "Tenho sorte de poder trabalhar assim, do story board à finalização", observa Esteves, satisfeito por ver que da sua experimentação surgiu um novo formato - perfeito para o tipo de história que o canal queria contar.
Com uma grade de programação que, por opção, é 100% brasileira, a TV Rá Tim Bum precisa produzir em quantidade, porque o mercado não consegue atender à sua demanda. Mas as expectativas são grandes. "Quando começamos, não recebíamos nenhum projeto. Agora, isso já mudou, trabalhamos com algumas produtoras independentes", diz Garcia. "Ainda não podemos falar que temos uma indústria de animação no Brasil, mas vamos chegar lá, sim."
EDITAL DO MINC RECEBEU MAIS DE 200 INSCRIçõES
LENHA NA FOGUEIRA: O sucesso do edital Anima TV surpreendeu as mais otimistas expectativas do Ministério da Cultura. Lançado no fim do ano passado, o programa recebeu 257 projetos na primeira fase, que encerrou inscrições no dia 21 de janeiro. Desses, 227 foram considerados aptos para continuar concorrendo. Serão distribuídos R$ 3,9 milhões para a produção dos pilotos - de 11 minutos - dos 20 projetos vencedores.
Cada projeto receberá R$ 110 mil. Esses primeiros episódios serão testados em sessões especiais e em exibições na rede pública de televisão - a Fundação Padre Anchieta é, da TV Cultura e TV Ra Tim Bum, parceira do edital. Ao fim de todo o processo de seleção, depois de testados, dois programas serão escolhidos para ter uma primeira temporada produzida, de 12 episódios.
São Paulo foi o Estado que mais teve projetos inscritos no edital - 107. O Rio veio em segundo lugar, com 37, seguido da Bahia, que apresentou 25. Piauí, Mato Grosso e Paraíba competem com 1 projeto cada um. No total, 17 Estados enviaram projetos, e estão representados nesta primeira fase do edital.
Mas o maior volume de investimentos no setor - R$ 50 milhões - deve vir do Anima SP, uma parceria entre a Fundação Padre Anchieta e a Ancine, que vai usar recursos dos Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional (Funcine). Lançado em janeiro, o edital está em fase de captação de recursos. Só depois, começará a receber inscrições. A expectativa é que os recursos comecem a ser distribuídos ainda neste ano. As séries produzidas terão exibição garantida na TV Cultura.
Depois de comemorar 60 anos com uma exposição, o Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) ganhou uma data para o início da repaginada geral. O governador Luiz Henrique da Silveira assinará no dia 6 de maio a ordem de serviço para o início da reforma, ampliação e modernização do Centro Integrado de Cultura (CIC), da Capital, onde o museu está localizado. A solenidade vai marcar o último dia da exposição Masc 60 anos. (Fonte: Alícia Alão - Variedades / Diário Catarinense - 20/04/2009) ___________________________________________________ Reforma do CIC prestes a começar A reforma do Centro Integrado de Cultura (CIC) está prestes a começar. A Construtora Salver Empreiteira de Mão de Obra Ltda, de Ituporanga, é a vencedora do processo licitatório do edital realizado na última sexta-feira (13/3). (fonte: Jornal Notícias do Dia - 17/3/2009) Semana é decisiva para obras no CIC Reforma do Centro Integrado de Cultura (CIC), na Capital, começa a sair do papel
A empresa vencedora da licitação para a primeira fase das obra foi a Salver Empreiteira de Mão-de-Obra Ltda., de Ituporanga. A presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Anita Pires, explica que na prática as obras já estão em andamento desde a semana passada, após uma reunião entre ela, a diretoria do Deinfra e a empresa vencedora.
- O prédio vai voltar a ser como era no projeto original - destaca Anita.
Uma reunião foi realizada na quarta-feira passada, na qual foi estabelecido o cronograma de trabalho. As obras começaram pelo telhado - que será impermeabilizado para evitar a ocorrência de goteiras, que atrasaram o início a exposição da Coleção Gilberto Chateaubriand no ano passado - pela área das oficinas e pelos camarins.
O museu receberá intervenção a partir de 7 de maio. O canteiro de obras ficará no estacionamento atrás do CIC e as obras do Masc serão abrigadas numa parte refrigerada do museu. Enquanto o Masc estiver em obras, parte do acervo seguirá em exposição itinerante pelo Estado. Blumenau será a primeira cidade a recebê-la.
- O CIC tem especificidades próprias. Faremos a reforma num ambiente que abriga obras cujo valor é incalculável. Orientamos a empresa a seguir alguns critérios e não interferir no ambiente de maneira a não prejudicar as obras, que valem milhões - explicou o diretor de obras civis do Deinfra, engenheiro Luiz Carlos Marinho Cavalheiro.
Serão trocadas a refrigeração, a parte hidráulica, elétrica e as esquadrias. O Teatro Ademir Rosa encerrou as atividades com o show de Ney Matogrosso em 7 de abril. A reforma do teatro, no entanto, será contemplada por outro edital. Anita informa que na semana que vem, uma comissão formada pelo arquiteto Marcos Fiúza, a diretora de patrimônio da FCC Simone Harger e o técnico de espetáculos Irani Apolinário irá à Funarte, no Rio de Janeiro, para receber orientações sobre tecnologias avançadas em cenotecnia, som e iluminação.
No dia 6 de maio, além da ordem de serviço, o governador assinará um decreto que estabelece um convênio com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Anita explica que, a partir de então, todas as obras na área de cultura receberá propostas de arquitetos em relação à estética, ao paisagismo e ao impacto visual no ambiente.
- A ideia é democratizar o acesso e agregar valor a esses equipamentos culturais - destaca Anita.
A licitação para o novo mobiliário e a decoração do CIC, por exemplo, poderão ser incluídos nesse convênio. O cinema não tem prazo para encerrar as atividades, o que deve ocorrer no prazo limite. Anita afirma que depois de iniciadas a obras ali, ficará fechado "o mínimo possível", que seria aproximadamente dois meses. A presidente da FCC declara ainda que todo o CIC deve ficar pronto até março de 2010.
____________________________________________________________________
O presidente da comissão de licitação, Roberto Zattar, disse que cinco técnicos conferiram a documentação. Das 12 interessadas, 11 são de SC: Greco Romano, Engetom, Construhab, Nakazima, Centauros, Planecon, Itasa, Salver, Engedix, Global e Espaço Aberto. E uma do Paraná: Endeal.
Zattar afirmou que ainda não há data marcada, mas, provavelmente, até amanhã serão divulgadas as empresas habilitadas, para então serem abertas as propostas. A concorrência levará em conta o menor preço proposto pelas empresas, com um teto máximo de R$ 7.931.260,38.
Sofrerão intervenções o Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), o Teatro Ademir Rosa, a parte administrativa, o setor de oficinas, o hall, as instalações climáticas e elétricas, o circuito interno de TV, a parte de informática e o cabeamento, num total de 4,5 mil metros quadrados.
(Fonte: Diário Catarinese - 04/03/2009)
_____________________________________
Repaginação do CIC está próxima
Em março, será conhecida a vencedora do edital de licitação da primeira etapa das obras
30/01/2009 - Está lançado o edital de licitação para a Etapa 1 da readequação e reforma do Centro Integrado de Cultura (CIC), na Capital. Publicado na terça-feira passada (27), o edital prevê concorrência pelo menor preço e as propostas serão abertas no dia 3 de março, mesma data da divulgação da empresa vencedora.
A primeira etapa da reforma geral do CIC fará intervenções na parte esquerda de quem entra no espaço cultural, que inclui o hall, as salas de oficinas e o Museu de Arte de Santa Catarina (Masc). A empresa vencedora da licitação terá 240 dias de prazo para execução da obra, que deve iniciar até o final de março.
O autor do projeto original e da reforma do CIC, arquiteto Marcos Fiúza, explica que haverá uma reorganização do espaço e reforma geral.
- Não deixa de ser um resgate. O CIC está há muito tempo sem manutenção e várias inserções foram sendo feitas ao longo dos anos que alteraram o projeto original. O museu foi subdividido em salinhas, descaracterizaram o espaço. Onde está o Museu da Imagem e do Som, o Espaço Lindolf Bell e o Café Matisse, teve uma ocupação desenfreada, cada um pegou espaço sem planejamento nem projeto. Ali estava prevista uma Biblioteca Central, que nunca foi colocada em prática - recorda.
Em relação às áreas administrativas, tanto a Fundação Catarinense de Cultura quanto a administração do CIC estão em locais inadequados, na avaliação de Fiúza, e será feita uma reposição.
Durante os oito meses de obras, os espaços em reforma permanecerão fechados, inclusive o cinema. A presidente da Fundação Catarinense de Cultura, Anita Pires, ressalta que serão promovidos eventos itinerantes, como exposições e oficinas, mas não está previsto um outro ambiente para as exibições de cinema nesse período.
- Como a reforma será completa, com parte elétrica, hidráulica e de incêndio, não tem como não fechar. Propusemos aos agentes culturais a realização de oito encontros regionais. Historicamente, o CIC ficou muito voltado para dentro dele mesmo. Trabalhamos com o conceito de cultura como um direito humano componente da cidadania, por isso a itinerância - justifica a presidente.
O Teatro Ademir Rosa e o cinema ganharão um edital específico e as obras devem ser concluídas, assim como as da Etapa 1, até dezembro. Fiúza explica que a Sala de Cinema, que hoje é um auditório, será adequado para cinema. O teatro vai ganhar um camarim e será modernizado, como afirma o arquiteto e diretor de arte Marcos Flaksman, autor do projeto técnico do Ademir Rosa. O arquiteto esteve em Florianópolis esta semana para avaliar o estado do teatro.
- Eu não vinha há muito tempo, o local precisa ser renovado. Em 28 anos, muita tecnologia mudou, como de iluminação cênica e equipamento de mecânica, que sofre um desgaste natural. Suportes de madeira serão trocados por metálicos, entre outros ajustes - explica.
- A programação do Teatro do CIC não é para ter show de rock. O uso indevido acaba estragando e não dura muito. Deve ser feito um regimento interno para ser seguido. A ideia é fazer reforma, mas com continuidade - complementa Fiúza.
Quanto à biblioteca originalmente prevista no projeto do CIC, Anita Pires acena com a possibilidade de que seja finalmente instalada.
- No segundo pavilhão, onde ficaremos, vai ser um conceito muito mais contemporâneo de uma casa cultural, com teatro, cinema, oficina, atividades culturais, espetáculos, uma biblioteca e livraria. O café será aberto na frente do CIC, virado para a rua, com um deck. Terá arena ao ar livre, para os grupos ensaiarem - finaliza Anita.
________________________________________________________________
SAIBA MAIS:
__________________________________________________________________
Melhorias no Teatro Ademir Rosa e no cinema
O Teatro Ademir Rosa e o cinema ganharão um edital específico e as obras devem ser concluídas, assim como as da etapa 1, até dezembro. O arquiteto Marcos Fiúza explica que a sala de cinema, que hoje funciona como auditório, será adequada para cinema.
O teatro vai ganhar um camarim e será modernizado, como afirma o arquiteto e diretor de arte Marcos Flaksman, autor do projeto técnico do Ademir Rosa. O arquiteto esteve em Florianópolis durante a semana para avaliar o estado do teatro.
"Eu não vinha havia muito tempo, o local precisa ser renovado. Em 28 anos, muita tecnologia mudou, como de iluminação cênica e equipamento de mecânica, que sofrem um desgaste natural. Suportes de madeira serão trocados por metálicos, entre outros ajustes", explica.
"A programação do Teatro do CIC não é para ter show de rock. O uso indevido acaba estragando e, consequentemente, não dura. Deve ser feito um regimento interno para ser seguido. A ideia é fazer reforma, mas com continuidade", complementa Fiúza.
Quanto à biblioteca originalmente prevista no projeto do CIC, Anita Pires acena com a possibilidade de que seja finalmente instalada. "No segundo pavilhão, onde ficaremos, vai ser um conceito muito mais contemporâneo de uma casa cultural, com teatro, cinema, oficina, atividades culturais, espetáculos, uma biblioteca e livraria", conta. "O café será aberto na frente do CIC, virado para a rua, com um deck. Terá arena ao ar livre, para os grupos ensaiarem", finaliza Anita.
(Fonte: Alícia Alão / Diário Catarinense, 30/01/2009)
Luz, vazios, linhas e nós fazem parte da essência da exposição Lume, de Clara Fernandes, que inicia na próxima quinta-feira, 6, no Museu Histórico de Santa Catarina- Palácio Cruz e Sousa. Através de anteparos levíssimos e de grandes dimensões, a artista apresenta um conjunto de obras penetráveis com o intuito de aproximar indivíduo e lugar.
A inspiração de Clara surgiu da observação dos ambientes e dos amplos interespaços vazios que envolvem as pessoas e por onde transitam os pensamentos. "Pensei então em construir grandes anteparos que fizessem os pontos de ligação entre os diversos momentos da circulação e funcionassem como um "filtro das ideias" que movimentam o espaço" explica.
Com curadoria de Kamilla Nunes, a mostra apresenta instalações que se infiltram no ambiente e transbordam reflexões pelo espaço urbano. Assim ramificada, a obra se constitui como um pensamento plástico que se estende e replica para além do local expositivo, tomando-o apenas como ponto de partida.
A mostra é gratuita e permanece no Museu Histórico de Santa Catarina até 30 de agosto. A exposição faz parte do projeto LUME, concebido em 2006. Desde 2007, a intervenção já passou por praias e campos da ilha de Santa Catarina, pelo espaço cultural Casa das Caldeiras em São Paulo, Fundação Cultural Badesc e Teatro álvaro de Carvalho.
O que: Exposição LUME de Clara Fernandes
Quando: 06 de agosto às 19h ao dia 30 de agosto de 2009
Mesa Redonda com Clara Fernandes: 19 de agosto às 16h
Onde: Museu Histórico de Santa Catarina, Palácio Cruz e Sousa
Quanto: Gratuito
O Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) prorrogou de 8 de março para 23 de março o encerramento de cinco mostras: "Vanitas", de Albertina Prates, "Quiasma", de Betânia Silveira (foto ao lado), "Grande Hotel", de Fabiana Wielewicki, "Mater´s", de Sela, e "Um Espelho no Acervo", com curadoria de Fernando Lindote. Com o apoio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), mantenedora do espaço, elas podem ser vistas gratuitamente desde 5 de fevereiro.
"Essas exposições são revestidas de criatividade individual e coletiva, e encontram espaço para sua convivência no Masc, que é um lugar de ensino, debate, diálogo, laboratório, preservação e descoberta", diz a administradora do Masc, Lygia Helena Roussenq Neves. "Além de abrir espaço para mostrar as novas produções de artistas de nosso Estado, também estamos exibindo parte do rico acervo do nosso museu", afirma a presidente da FCC, Anita Pires, lembrando que dentro de algumas semanas, em 18 de março, o Masc completará 60 anos de existência.
Formada em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), com pós-graduação em gerontologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e em Artes Visuais Contemporânea pela Udesc, Albertina Prates levou 39 telas ao Masc. "O tema que proponho é o da vaidade, qualidade do que é instável, transitório, fugaz. Nada é eterno, tudo flui, tudo rápido passa", afirma. As pinturas se apresentam em cinco partes distintas, mas complementares. Em "Beemot" está o animalesco, o irracional, a força bruta. Em "O Espelho" está simbolizada a sucessão de formas, a duração limitada e sempre mutável dos seres. Em "O Jogo I" e "O Jogo II" está o universo no qual, através de oportunidades e riscos, cada qual precisa achar o seu lugar. E em "O Fio de Ariadne", o simbolismo do fio é essencialmente o do agente que liga todos os estados da existência entre si, e ao seu princípio. "Falo das vaidades necessárias para que o ser humano possa evoluir", explica Albertina.
Professora das Oficinas de Arte da FCC, Betânia Silveira tem mestrado em Artes, na área de Poéticas Visuais, pela Universidade de São Paulo (USP), e pós-graduação em Cerâmica pela Universidade de Passo Fundo. O trabalho que expõe no Masc resulta de uma pesquisa plástica e poética, fruto do quiasma entre arte e vida. A exposição realiza-se como um percurso traçado entre objetos produzidos a partir de materiais diversos, como imagens fotográficas, cerâmicas, vidro, espelho e plantas. Conceitos como rede, rizoma, conexões e rupturas dão suporte e fundamento ao trabalho. "Entrecruzamentos formais e de sentidos, matérias e mídias, formam corpos onde se pode detectar a presença do entrelaçamento entre vida, morte, fragilidade e resistência", analisa Betânia.
Fabiana Wielewicki é mestre em Artes Visuais, com ênfase em Poéticas Visuais, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e tem bacharelado em Artes Plásticas pela Udesc. Ela conta que o projeto "Grande Hotel" foi iniciado em 2006, com uma pequena coleção de fotografias de hotéis realizadas antes de cada check-out. "Após ter realizado uma temporada de trabalho em cidades diferentes, muitos hotéis foram integrando minha coleção. A paisagem da janela, o filme da TV e o quadro do quarto eram sempre registrados. A coleção foi ganhando enfoques diferentes: certos elementos e iluminação sugerem ambientes de suspense, romance, solidão, tédio", conta. Segundo Fabiana, "a soma dos registros dos hotéis por onde estive constituem o Grande Hotel. Um lugar (ou não-lugar, se consideramos que é sempre passagem) que é o rastro ou fantasma de muitos outros. è um outro lugar ou lugar nenhum. As imagens são fragmentos de um único filme sem personagem. O cenário parece monótono sem ser o mesmo", avalia.
Bacharel em Artes Plásticas pela Udesc, Sela, nome artístico de Maria Selenir Nunes dos Santos, trouxe ao Masc pinturas que têm ao mesmo tempo registro abstrato e figurativo e se aproximam do pensamento de que "o paraíso é terreno". Para a artista, ali estão "mãe e matéria, a terra como origem do humano. A exaltação e o caráter sagrado da terra. Essa série de pinturas não procura representar o meio natural, o mundo primitivo e selvagem, mas sim apresentar a paisagem natural através da materialidade e da gestualidade, que sugere a entrega do humano ao meio. Os Mater´s sustentam que a possibilidade de transcendência se dá através da natureza, que o vínculo entre ela e o homem é indissolúvel", explica.
Sob curadoria de Fernando Lindote, a mostra "Um Espelho no Acervo" reuniu obras de artistas do acervo do Masc (Daniel Acosta, Doraci Girrulat, Fúlvio Pennacchi, Jandira Lorenz, Jenny Mackness, Michael Chapmann, Paulo Whitaker, Rochele Costi, Gaudêncio Fidelis) e de artistas catarinenses convidados (Camila Barbosa, David Denardi, Diego Raick, Flávia Duzzo, Juliano Zanotelli, Karina Zen, Neide Campos, Osmary Gonnzatti, Rudinei Dazzi, Sonia Beltrame). Segundo Lindote, "um dos procedimentos possíveis de curadoria de acervo de museu, bastante recorrente na atualidade, parte da escolha de algumas obras desse acervo para estabelecer relações com obras em desenvolvimento no espaço de atuação da instituição, procurando assim permitir aproximações entre essas produções". Para o curador, a mostra em exibição no Masc foi pensada a partir desse modelo, porém em sentido invertido. "Pensei primeiro no repertório externo, nas obras e nos artistas que conheci pelas viagens que faço pelo Estado. Desse grande repertório, escolhi alguns artistas que por diferentes razões, atravessadas com certeza por uma noção de excelência, acreditei formar um conjunto interessante a ser apresentado ao público do Museu. Somente depois da escolha de artista e obra realizada, fui confrontar essas escolhas com o acervo e desenvolver possíveis reflexões entre uma produção e outra. E, colocado esse espelho às obras do acervo do Masc, podemos, a partir deste pequeno recorte , começar a pensar novas possibilidades para o que entendemos por artes visuais neste momento no Estado de Santa Catarina".
SERVIçO:
O QUê: Exposições "Vanitas", de Albertina Prates, "Quiasma", de Betânia Silveira, "Grande Hotel", de Fabiana Wielewicki, "Mater´s", de Sela, e "Um Espelho no Acervo", com curadoria de Fernando Lindote.
QUANDO: abertura 05 de fevereiro, quinta-feira, às 19h30. Visitação até 08 de março de 2009, de terça a domingo, das 13 às 21 horas.
ONDE: Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), Centro Integrado de Cultura, Av. Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica, Florianópolis, fone: (48) 3953-2323.
QUANTO: gratuito.
"Vanitas", de Albertina Prates
"Grande Hotel", de Fabiana Wielewicki
"Mater´s", de Sela
A Fundação Catarinense de Cultura (FCC) promove, até 13 de abril, duas grandes exposições no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc). Enquanto a mostra "O Espaço Pleno" reúne dezenas de telas em grandes dimensões de Rubens Oestroem, as instalações da mostra "Invisibile" apresentam algumas reflexões sobre o feminino feitas por três artistas: Letícia Márquez, Lúcia Misael e Maria Cheung.
Amigas há muitos anos, as três artistas pela primeira vez fazem uma exposição conjunta. Todas moram no Paraná, mas em cidades diferentes - Curitiba, Foz do Iguaçu e Londrina. Uma vez por ano, se encontram para falar sobre arte e sobre a vida. Num desses encontros, surgiu a idéia de uma exposição conjunta sobre as mulheres. "Queríamos falar sobre aquilo que não está tão visível, que nos incomoda, mas que muitas vezes deixamos passar", afirma Lúcia. O resultado foi uma exposição intensa, onde força e fragilidade se mesclam.
Na instalação "Alguma coisa acontece no meu coração", de Letícia, o visitante é surpreendido por dezenas de fotos de cabeças de mulheres coladas no alto das paredes, sem corpo, tendo como único adereço vastas cabeleiras desenhadas em grafite até o chão, se equilibrando como grandes totens, parecendo buscar sustentação. Os rostos são de mulheres que fazem parte do dia-a-dia de Letícia - incluindo ela mesma, mais Lúcia e Maria. Todas olham para o alto. Será que buscam socorro, proteção? Será que estão suplicando, ou agradecendo? Não estariam simplesmente fazendo alguma adoração, contemplando algo? "é uma obra aberta. Cada um pode fazer a sua leitura, inclusive entendê-las como seres assexuados, sem corpos, representando questões existenciais", avalia.
Ao lado, nova surpresa. A chinesa/brasileira Maria - cujo nome de nascimento é Miu Kuen, que significa beleza e delicadeza em cantonês - fala da dor das milhares de meninas chinesas mortas antes de nascer, pelo único crime de serem mulheres e não homens. Sua instalação coloca na parede, em pequenas cadeiras, dezenas de bonecos, todos homens e sem roupa, pintados de dourado. Ao lado, pequenos caixões cor-de-rosa guardam chupetas, sapatinhos de bebê, bicos, brinquedos, bonecas. Eles valem ouro, elas valem nada.
Por fim, chegamos nas instalações de Lúcia, cuja fonte de inspiração veio de duas mulheres, suas avós. Sua avó materna morou com a família até morrer. Era dentista e grande bordadeira. Com seu trabalho manual, ajudou a sustentar seus filhos. "Era uma pessoa recatada, mas de muita sensibilidade", conta a artista. Na instalação, Lúcia usa uma das toalhas feitas pela avó. Ela é projetada como sombra no chão, fazendo com que o público receba a imagem em seu corpo. "Da convivência com essa avó, nasceu meu olhar sensível e atento para as pequenas coisas que fazem parte do universo feminino", conta.
Com a avó paterna a convivência foi mais difícil por causa da distância. "Ela morava em uma fazenda no sertão do Piauí, e foi mãe de 16 filhos. Era pequena, mas muito forte. Comandava a casa com muita alegria e propriedade. Tinha um carinho por todos e era muito respeitada e admirada. Nas horas vagas, fazia renda, oficio que aprendeu com sua mãe, para trazer beleza ao seu espaço. Enquanto trabalhava os bilros em suas mãos, organizava o pensamento e se enchia de prazer. Era um momento dedicado a si mesmo", recorda Lúcia. Na instalação, ela usa 521 grandes bilros em vidro, feitos um a um, e que receberam cordões de cobre, reunidos em grupos.
A terceira instalação de Lúcia é uma mesa de vidro que recebeu 60 pequenas toalhinhas feitas de pão. O material foi escolhido pela delicadeza e fragilidade. "é da cultura árabe, chamado de pão toalha. Num único gesto, uma bola de massa é atirada sobre uma superfície côncava que está sobre o calor do fogo. A massa se espalha formando uma fina camada de mais ou menos 30cm de diâmetro. Em seguida são colocadas, ainda quentes, umas sobre as outras para depois receber a embalagem. Ressecam em contato com o ar, portanto a tarefa tem que ser rápida. Imaginem a beleza dessa imagem, empilhando dezenas de placas muito finas de pão, ainda com o calor do fogo".
Pela primeira vez, o Museu de Arte de Santa Catarina abriga uma extensa mostra do trabalho do artista Rubens Oestroem. Da primeira vez, reuniu as obras que realizava sob o influxo do neo-expressionismo germânico, um dos tópicos mais relevantes dos anos 80. No presente momento, o artista, que também é curador da exposição, reúne boa parte de sua produção posterior, relativa sobretudo aos anos 90 e aos primeiros do novo século. Servindo-se de um critério menos histórico do que estético, e interessado em valorizar a presença relacional das obras num espaço museográfico, Rubens deixa claro aos olhos do visitante a extensa problemática criativa que o tem preocupado nos últimos tempos, e que tem nas implicações da materialidade seu mais relevante aspecto. Trabalha com os limites, as rupturas e as possibilidades transpositivas da pintura.
O QUê: Exposições "O Espaço Pleno", de Rubens Oestroem, e "Invisibile", de Letícia Márquez, Lúcia Misael e Maria Cheung.
QUANDO: Visitação até 13 de abril, de terça a domingo, das 13h às 21h.
ONDE: Fundação Catarinense de Cultura / Museu de Arte de Santa Catarina, localizado no Centro Integrado de Cultura (CIC), Av. Gov. Irineu Bornhausen, nº 5600 - Agronômica - Florianópolis - SC. Telefone: (48) 3953-2300.
QUANTO: gratuito.