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fonte: Diário Catarinense - 05/02/2009

No início dos anos 1960, só para "inticar" com o irmão Rubens Diniz, a então professora de educação física Eli Malvina Diniz Heil espalhou pelas paredes da casa uns desenhos que fez, depois de ver uma obra de arte pela primeira vez na vida. No ano em que completa 80 anos (dia 5 de junho), a vida e as criações da artista plástica Eli Heil serão temas de dois livros, um documentário e uma exposição, que pretendem dar mais visibilidade ao trabalho desta artista inquieta.

Pensando que também poderia fazer aquilo que viu, até melhor, fez a provocação com o irmão - quase uma traquinagem - e nunca mais parou de "vomitar" criações, numa explosão de seres, cores e emoções em técnicas ímpares.

Nascida em Palhoça, criada em Santo Amaro da Imperatriz para depois morar na Capital, Eli se recuperava de uma bronquite asmática. A enfermidade durou oito anos, sendo cinco destes limitados a uma cama. Sem nunca ter estudado estética ou as escolas artísticas, aos 33 anos, começou a desenhar, depois pintar sobre panos - por não conhecer telas - e trabalhar incansavelmente pelos filhos e por sua arte, "senão, fica doente".

- Foi como se tivessem me espetado - resume a artista plástica.

O livro óvulos de Eli - a expulsão dos seres de Eli Heil, da produtora Contraponto, está pronto e será lançado na próxima quinta-feira, dia 12 de fevereiro, somente para convidados, na Biblioteca Barca dos Livros, na Lagoa da Conceição, Capital. Um outro livro, mais abrangente e organizado pelo professor e crítico de arte João Evangelista de Andrade Filho e o médico Ylmar Correa, está em produção. Aos moldes da publicação sobre a obra de Martinho de Haro, Correa explica que o livro terá 400 páginas, foi aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura, é considerado prioridade e terá recursos da Fundação Catarinense de Cultura, sem necessidade de captação.


- Estamos fazendo a revisão, a cronologia da vida artística, as principais exposições e vamos fotografar as obras - afirma o médico, que buscou registro das obras no museu O Mundo Ovo de Eli Heil, no Museu de Arte de Santa Catarina e em coleções particulares.

A publicação deve acompanhar uma exposição grandiosa com as obras da artista, ainda sem data marcada, devido à reforma do Centro Integrado de Cultura, a começar em março. A administradora do Masc, Lygia Helena Roussenq Neves, garantiu que a mostra está na pauta do museu, assim como um ciclo de palestras sobre a artista, mas o local não está definido e deve ser pré-agendado ainda esta semana.

O documentário óvulos de Eli, também produzido pela Contraponto, está em execução. Imagens da artista em seu Mundo Ovo foram captadas entre 2005 e 2006 e retomadas em 2008. Com orçamento de R$ 117.821,00, foi aprovado pela Lei Rouanet no ano passado e tem um terço do valor captado, com apoio do BRDE e Fundação Badesc. Será um média-metragem, com 50 minutos, e mil cópias do DVD serão distribuídas gratuitamente para escolas, museus, multiplicadores e emissoras de TV.

Trata-se de um retrato audiovisual de Eli, que será a narradora de sua vida e obra.

No projeto do documentário, a diretora e produtora Kátia Kloch pretende levar Eli Heil para o sul da França, onde estão suas primeiras obras, adquiridas pela amiga e curadora Ceres Franco. A catarinense nunca esteve lá, tampouco saiu do Brasil e é conhecida pelo grande apego às suas criações.

- Seria a "cereja do bolo", promover esse reencontro de Eli com suas obras e a Ceres. Mas agora trabalhamos com prioridades e, se não der certo a viagem, o mais importante é terminar o audiovisual este ano - conclui Kátia.

Os ovos debaixo das asas

Com um leque na mão para aliviar o calor, Eli Heil desanda a contar histórias aos que a visitam. Uma vez defendeu os filhos no colégio, que levaram nota zero por desenhar uma casa com pernas e um boi verde. Inconformada, lá foi Dona Eli defender a cria, assim como faz com cada uma de suas obras, que só vende por necessidade e protege com zelo.

As crianças tornaram-se os artistas plásticos Teresa e João Pedro Heil, ele o presidente da Fundação O Mundo Ovo de Eli Heil. O museu, que guarda mais de duas mil obras da artista que não para de produzir, foi escolhido como o melhor de Florianópolis pelo Guia Quatro Rodas 2008. Na porta de entrada do museu, jaz o casal Adão e Eva, esculturas de Eli que foram derrubadas por tratores para a duplicação da SC-401, em 1996.

- Uma barbaridade aquilo - lembra a artista, que vestiu luto por seis meses.

A tristeza a fez criar a escultura Santa Ceia, numa Sexta-feira Santa.

- Fiz Cristo com animais em volta, estava muito sentida com os homens. Veio um crítico de arte e disse que esta é a Santa Ceia mais original que ele tinha visto.

Eli cria, cuida, restaura e faz questão de guiar seus visitantes pelo museu. Com sorriso largo e dentes perfeitos, a bisavó aproveita materiais recicláveis e não entrega as inúmeras técnicas que usa em suas obras. Não registra, mas garante ter tudo na cabeça. Escultura, pintura, tapeçaria e poesia são algumas das suas formas de expressão.

Exemplos das diversas técnicas da artista foram reunidas no livro óvulos de Eli - a expulsão dos seres de Eli Heil, organizado por Kátia Klock e Vanessa Schultz. Com 120 páginas, reúne fotos de obras, poemas e textos jornalísticos.

Entre os ensaios há o de João Evangelista de Andrade Filho - que levou as obras de Eli para o Masc numa exposição individual, em 1966 -, o crítico de arte Fábio Magalhães - que compara a catarinense a Joan Miró e Antoni Tàpies - e o professor de Psicologia da USP João A. Frayze-Pereira - que analisa os conceitos de arte incomum, classificação que recebeu quando participou da 16ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1981-, entre outros.

- Sempre me chamou a atenção a história dela pelo incomum, isso dela praticamente entrar num coma e renascer. A Eli é reverenciada internacionalmente, mas pouco reconhecida em sua própria terra - afirma Kátia.

- Já fiz livros sobre (os artistas) Meyer Filho, Franklin Cascaes, mas este foi um dos mais difíceis na organização visual, e muito prazeroso também. Ela obriga a gente a entrar nos nossos pontos mais sensíveis - reflete Vanessa, que fez a direção de arte e o projeto gráfico do livro.

Homenagear o poeta catarinense Zininho nos dez anos do seu falecimento é a proposta da próxima atração do projeto Sexta no Jardim, promovido pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). O espetáculo Dez anos sem Zininho será realizado no dia 10 de outubro, às 18 horas, e terá apresentação do grupo Orquestra de Dança Quebra com Jeito e tem entrada franca. Como em todas as outras edições, ocorrerá no jardim do Palácio Cruz e Sousa, no Centro de Florianópolis.

Os músicos convidados são Denise Castro, cantora, pianista, compositora e arranjadora do show, Sílvia Beraldo, instrumentista, compositora, arranjadora e fundadora do grupo, Alexandre Vicente, baixista, e Victor Bub, bateirista. A Orquestra de Dança Quebra com Jeito foi formada na década de 70, para acompanhar Neide Mariarrosa, principal intérprete da obra de Zininho, em seus shows pelo estado. Além de marcar a data, o evento objetiva levar à população a música e o repertório do poeta que demarcou em versos e canções seu amor por Florianópolis. A música "Rancho de Amor à Ilha", por exemplo, já é um dos hinos clássicos da cidade.

Claudio Alvim Barbosa, o Zininho, foi um compositor de música popular que dedicou a vida à música. Nascido na localidade de Três Riachos, viveu no Largo 13 de Maio, atual Praça Tancredo Neves, vizinho do antigo casario da rua Menino Deus e do Hospital de Caridade, e no Bairro do Estreito, na adolescência. Desde jovem foi atraído por atividades radiofônicas, e chegou a trabalhar nas rádios Diário da Manhã e Guarujá, onde fez de tudo um pouco: cantor, rádio-ator, sonoplasta, técnico de som e produtor.

Na época de ouro do rádio, nas décadas de 40 a 60, compôs mais de cem músicas, de marchinha a samba-canção, com destaque para A Rosa e o Jasmim, Quem é que não chora e Princesinha da Ilha. Mesmo com o declínio do meio, continuou a gravar. O Rancho de Amor à Ilha, a mais famosa de suas canções, venceu um concurso de marchinhas promovido pela Prefeitura de Florianópolis em 1965, e foi transformada em hino oficial da cidade de Florianópolis alguns anos depois, com o projeto de lei do então vereador Waldemar Joaquim da Silva Filho, conhecido como Caruso.

O QUê: Projeto "Sexta no Jardim", com o espetáculo Dez anos sem Zininho. QUANDO: sexta-feira (10), às 18h. ONDE: Jardins do Palácio Cruz e Sousa (em caso de chuva a apresentação será transferida para o interior do Museu Histórico de Santa Catarina), Praça 15 de Novembro, Centro, Florianópolis, fone: (48) 3028-8091. QUANTO: gratuito.

O Museu Victor Meirelles, vinculado ao DEMU/IPHAN, lança anualmente o Edital Exposições Temporárias, com o intuito de promover a democratização do espaço público, a reflexão e a difusão da produção contemporânea de artes visuais. As exposições visam contribuir para a dinamização do Museu, consolidando seu papel como centro de debate, formação e referência sobre arte para a comunidade.

No cronograma de exposições temporárias de 2009-2010, o Museu Victor Meirelles promoverá quatro exposições, selecionadas através deste Edital, além de duas exposições contextualizadas com artistas convidados, tendo como objetivo refletir sobre momentos representativos da produção artística. Nestas exposições são desenvolvidas atividades educativas e culturais, visando uma aproximação mais enriquecedora do público com a obra de arte.

As inscrições estão abertas a todos os artistas e grupos brasileiros ou estrangeiros. Os interessados deverão enviar suas propostas até o dia 15 de dezembro para serem avaliadas por uma Comissão Consultiva, de reconhecida competência, obedecendo às exigências do Edital que encontra-se disponível no site do Museu Victor Meirelles, no link exposições.

Cultura significa cultivar, cuidar. E é isso que estamos fazendo hoje no Brasil, cuidando da nossa arte, da nossa identidade, dos nossos saberes e ofícios. Participar desse cultivo ficou mais simples e interessante. Quando o Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura, resolveu dividir o Brasil em centenas de pontos, a realidade era diferente.

O Programa Cultura Viva promove uma autonomia de gestão entre os diversos grupos, gera a inclusão social por meio de atividades culturais e alcança adultos, idosos, jovens e crianças com suas ações.

A idéia é atender iniciativas desenvolvidas pela sociedade civil, que firmam convênio com o Ministério da Cultura - MinC, por meio de seleção por editais públicos. O Programa começou em 2006 e hoje existem mais de 650 Pontos de Cultura espalhados pelo país.

Os Pontos de Cultura formam uma rede para trocar informações, experiências e realizações. As Instituições proponentes entram com os espaços, a gestão e o compromisso de desenvolver um trabalho com responsabilidade e transparência.

Cada canto tem suas manifestações, belezas, cheiros, ofícios e sons. A divisão feita pelo Programa Cultura Viva não serviu para separar, mas sim para valorizar a cultura do Brasil. O Ponto, que antes fazia um trabalho isolado, agora troca, passa pra frente e agrega vários elementos.

Em Santa Catarina são 17 localidades que se tornaram Pontos de Cultura. A partir do ano que vem o Estado tem o compromisso de mapear e contemplar mais 60 instituições. Esse compromisso foi firmado pelo Governo Estadual, através da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte, com o Ministério da Cultura e o edital está sendo finalizado.

Os 17 Pontos já existentes em SC desenvolvem um trabalho nas mais variadas áreas: produção audiovisual, confecção e animação de bonecos manuais, cultura nativista, cultura digital, identidade cultural e memória oral. Tudo isso já formou uma rede que tende a crescer cada vez mais.

Para a articulação, troca de experiências e comunicação entre os Pontos, aconteceu em Itajaí nos dias 26, 27 e 28 de setembro, o 1º Fórum Catarinense dos Pontos de Cultura. O evento reuniu agentes culturais, produtores e artistas de todo o Estado.

O Fórum foi um momento de trocas e articulações envolvendo a cultura, educação e comunicação entre os Pontos. O encontro ocorreu como uma pré-etapa do Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, realizado na Teia, evento que reúne todos os Pontos de Cultura do Brasil, e este ano será realizado em Brasília, entre os dias 12 e 16 de novembro.

A princípio, o fórum atenderia somente as instituições conveniadas ao MinC, mas o convite foi aberto aos representantes das associações culturais e artistas independentes, pela necessidade de se apresentar o trabalho do Programa Cultura Viva e de expor as idéias do novo edital.

Durante os três dias de encontro, foram feitas análises dos programas de apoio à cultura no Brasil e no Estado, questões dos convênios e sustentabilidade, ações de educação e comunicação, organização de uma agenda para a rede estadual de Pontos de Cultura, bem como o papel do Estado de Santa Catarina a partir dos novos convênios. Outra questão discutida foi a participação dos representantes na Teia deste ano.

Os representantes se reuniram em dois grupos de trabalho para a elaboração de um documento que foi encaminhado para os gestores culturais do Estado, assim como para o MinC e a FCC, com o objetivo de apresentar as deliberações da plenária do Fórum.

Estiveram presentes: Ponto de Cultura Memória e Identidade, de Itajaí; Ponto de Cultura TV Floripa; Ponto de Cultura Anima Bonecos, de Rio do Sul; Ponto de Cultura Nativa no Caminho das Tropas, de Lages; Ponto de Cultura Loja de Artesanato do Museu Nacional do Mar - EB, de São Francisco do Sul; Ponto de Cultura Portal Cultural do Contestado, de Canoinhas; Pontão Minuano, de Porto Alegre; Pontão Digital Ganesha, de Florianópolis; Associação Cultural Baiacu de Alguém, de Florianópolis; Cineclube de Palhoça; Ateliê Clara Lua Cheia, Imcarti e NEFA, de Itajaí; Casa Brasil, de Blumenau, Joinville e Florianópolis, Seção se Arte e Cultura da Universidade do Vale do Itajaí e Fundação Catarinense de Cultura - FCC.

06/11/2008 - Há 15 dias em Santa Catarina, o cineasta Sylvio Back está rodando o documentário O Contestado - Restos Mortais, 37 anos depois de ter realizado A Guerra dos Pelados (1971), uma ficção sobre o mesmo tema.

Hospedado no hotel Esplanada do Contestado, no município de Caçador, Back fala sobre esta opção:

O Contestado ainda não entrou na corrente sangüínea da historiografia brasileira - diz, em entrevista concedida por telefone na manhã de ontem.

Há quatro anos dedicado à produção do longa, o diretor está fazendo um filme essencialmente documental, com entrevistas com remanescentes da época, material iconográfico e imagens, incluindo material inédito. Uma das descobertas de Back são imagens de cinema de alguns segundos do sepultamento do capitão João Gualberto, que morreu num confronto com as tropas de João Maria, e outros filmes realizados pela Lumber, empresa construtora da ferrovia que está no centro do conflito, que ocorreu no interior do Paraná e Santa Catarina entre 1912 e 1916.

Não há praticamente mais testemunhas oculares vivas. As entrevistas com os "velhíssimos", conforme Back denomina, inclui um pequeno grupo de pessoas de 80 a 103 anos de idade. Além de depoimentos de moradores da região, o cineasta vai finalizar o documentário em Florianópolis com entrevistas com estudiosos sobre o tema. Estes depoimentos incluem a fala do norte-americano Todd Diacon, brasilianista, vice-reitor da Universidade de Tennessee, e entendido da guerra do Sul.

O cineasta blumenauense reflete que o conflito do Contestado é inesgotável e que outros diretores já visitaram a região dispostos a tratar do assunto, mas desistiram da empreitada.

Não basta ler apenas um livro para absorver a complexidade do tema - diz ele.

Back considera que o seu interesse não é só pelo fato de ele ser catarinense, mas por ser "um cineasta cuja obra é seduzida pela ânsia de reverter as falácias e o esquecimento da história oficial".

O Contestado - Restos Mortais não é um documentário com a narrativa habitual de Back, que combina a ficção em seus docudramas. O que é certo é que o filme vai ter começo, meio, fim.

Não necessariamente neste ordem, como diria Godard (Jean Luc Godard, cineasta francês), brinca Sylvio Back.

Além de Back, o diretor de fotografia Antonio Luiz Mendes e o assistente de direção Zeca Pires estão trabalhando no trecho entre Porto União e Lages, ao longo da estrada de ferro, e no Vale do Rio do Peixe para a produção do longa.

A previsão é que O Contestado - Restos Mortais tenha uma duração final de 80 minutos e fique pronto no primeiro semestre de 2009.

Foto / Diário Catarinense: O diretor Sylvio Back (de chapéu) e o assistente de direção Zeca Pires (usando fones) filmam entrevista com Dona Rosalina, 98 anos, em Canoinhas