Harry Laus - Diário Catarinense - 25.02.92 “Será necessário lembrar aos artistas de Santa Catarina que o MASC guarda o maior e mais valioso acervo artístico-histórico deste pedaço de Brasil? Será necessário lembrar às diversas associações de artistas plásticos do Estado que esse patrimônio é, parte efetiva (e afetiva) de sua própria existência?” |
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Ruth - Porto Belo,3 de março de 2002 Harry, meu irmão,aquela valiosa-semente que desejaste plantar, em vida, e não encontrando terreno adequado a deixaste em mão competentes e amigas, germinou. Germinou, cresceu e gerou o precioso fruto que buscaste quando habitavas a terra e dirigias o Museu de Arte de Santa Catarina. Não foi fácil seu germinar porque a aridez é natural em terrenos que cultivam o saber. Mas em mão hábeis nas quais deixaste a semente, realizaram o milagre e a elas devem ser gratos os catarinenses. |
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Aldo Nunes - ex-diretor do MASC e artista plástico O MASC é importante porque guarda parte da essência cultural catarinense especialmente pela manifestação das artes plásticas e visuais de algumas gerações. |
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Carlos Scliar - artista plástico O convite para mostrar meus desenhos realizados nas horas de folga da minha participação como soldado da FEB, em 1944-45, na Itália, exposição comemorativa aos 50 anos do final da guerra contra o nazi-facismo, no Museu de Arte de Santa Catarina, foi também a oportunidade de rever Florianópolis e reencontrar amigos queridos. |
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Cleber Teixeira - bibliófilo e poeta Desde de que foi criado, em 1949, o Museu de Arte de Santa Catarina faz muito mas pela arte em Santa Catarina do que se poderia esperar de uma instituição pública que conta com poucos recursos, reduzido quadro de funcionários e quase nenhum apoio da comunidade. Foram muitas as dificuldades para manter ativo o nosso MASC nestes 51 anos de vida e muitas também as pessoas a quem devemos este serviço. Citar os diretores e os muitos funcionários que lá passaram e outros que lá estão é um dever de gratidão, mas por dever de justiça convém não esquecermos que nossa divida maior é com dois ou três diretores ou quatro funcionários e que aqui não cabe destacar nomes (a lembrança de nomes que não podem ser esquecidos não impede o esquecimento de nomes que devem ser lembrados). Para que o MASC continue cumprindo o seu dever é preciso que o governo lhe dê o recursos necessários e que a sociedade catarinense não esqueça que o MASC é nosso e que também precisamos trabalhar para que ele possa fazer cada vez mais pela preservação e divulgação da arte que se faz no Brasil. |
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Edilson de Carvalho Viriato MASC: entidade militante da arte e da contemporaneidade no contexto nacional. Fonte de cultura na qual homens de hoje e do amanhã poderão ver contada através das artes plásticas, “o tempo”. |
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Eglê Malheiros - escritora Filho de uma exposição de arte contemporânea trazida a Florianópolis, com o apoio do Grupo Sul, pelo escritor Marques Rebelo, em 1948, a qual, temperada pelas instigantes palestras do mesmo, causou aplausos entusiasmados e indignação esbravejante, o Museu de Arte Moderna de Florianópolis ( atual MASC ) representou o encontro de nossa terra com a modernidade . depois de uma trajetória acidentada, formou-se como uma casa de cultura dinâmica e atuante . Que nos muitos anos que terá à frente continue a ser um foco de disseminação da arte, em suas formas variadas e fecundas, sabendo fugir aos modernos estéreis impostos pelo mercado e seus corifeus . |
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Hamilton Abade Valente Ferreira - Grupo Sul Na década de 40 um grupo de jovens de Florianópolis fundou a “Revista Sul”, que era distribuida a intelectuais e escritores de todo o Brasil. Entre estes últimos se incluia MARQUES REBELO que, entusiasmado com a Revista, levou para Florianópolis uma coleção de quadros de pintores brasileiros. |
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Hiedy de Assis Corrêa - artista plástico Florianópolis, 40 anos, culta, província tranqüila. Nossa geração: cinema, rádio com estática, jornais atrasados do Rio e São Paulo. Museu: ponto de encontro para vários movimentos na velha casa da Tenente Silveira, antigo Club Germânia, ponto integrante na nova vida cultural. Apesar de pouco caso dos governantes durante quatro décadas, o Museu de Arte de Santa Catarina está aí, firme, sólido na sua missão de apoio e informação para novas gerações. |
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João Otávio Neves Filho - Janga - artista plástico Passei tardes e tardes de minha adolescência contemplando as telas de Djanira, Volpi, Pancetti e outros expostos no casarão da Tenente Silveira que abrigava o MAMF (atual MASC). Ali expus pela primeira vez e foi no silêncio daquele casarão que me conscientizei de alguns dados que se tornaram fundamentais para a construção de minha própria linguagem. |
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José Maria Dias da Cruz - artista plástico “O caminho se faz dia a dia.” |
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Lygia Helena Roussenq Neves - artista plástica A vida do Museu de Arte de Santa Catarina está inscrita nos espaços interiores dessa obra – também a minha vida repousa em 30 dos cinqüenta anos dessa história que se fez da soma de muitas luzes. Da centelha inicial de Harry Laus, notório entre os mentores da cultura catarinense, à edição de Biografia de um Museu – em que se releva a visão refinada de Wander e Laurita Weege, da Malwee, notáveis apoiadores das artes em Santa Catarina – , houve o hiato necessário para que o livro deixasse o seu estado imaterial e setornasse realidade. Afinal, a ausência dessa obra era um silêncio por demais visível nas artes de nosso estado. O silêncio queora se faz palavra, diálogo e convívio. |
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Maria Cecília França Lourenço Os museus brasileiros têm sido implantados em distintas regiões e épocas, sendo muitas vezes acompanhados por grandes esperanças, que extravasam o campo artístico, porquanto visam construir uma sociedade mais justa e capaz de se comover com o novo. Com sonhos, critérios e estratégias públicas, alguns cumprem as recomendações relativas ao que se considera como museu, propostas na atualidade pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU). Dentre estas instituições, pode-se inserir o Museu de Arte de Santa Catarina, nascido como Museu de Arte Moderna de Florianópolis, na época em que moderno se associa a arrojo, vanguarda e transformações. |
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Nelson Aguilar - crítico de arte O Museu de Arte de Santa Catarina tem algo do promontório de Sagres ou do cabo Canaveral, no sentido de propiciar a revelação de espaços novos a visitantes, especialmente os do eixo Rio-São Paulo. Nele, experienciamos o alargamento dos sentidos através de outras possibilidades de ser brasileiro. A equipe do MASC segue essas descobertas com um ar divertido e irônico, pois estão cientes da diversidade e da riqueza local. Não somente pelo fato de abrigar o Salão Nacional Victor Meirelles, fato que indica uma abertura de espírito rara mesmo entre desbravadores da arte, mas por seu núcleo de pesquisas que sedimenta através de publicações reputações como as de Luiz Henrique Schwanke, de Eli Heil ou os da diáspora catarinense como Ivens Machado, todos sob a ascendência do ativo e histórico criador da “Batalha dos Guararapes”. Um museu faz-se às custas da clarividência dos que amam a terra. Em Florianópolis, a limpidez da instituição deixa ver o nome primeiro da cidade, Desterro. A nomeação cobre todo o estado, uma vez que o lugar é o da acolhida e a capital, numa configuração subtropical de uma Europa móvel, assume residência insular, privilegiada por imigrantes açorianos, que vincam a arte e o modus vivendi da região. O museu tem a responsabilidade de cobrir todo esse vasto ciclo cultural, amparado pelo governo e, façamos votos, pela iniciativa privada, a qual, pelo desprendimento dos empresários, justifica espiritualmente sua integração na comunidade. |
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Onor Filomeno - Presidente da AAMASC Na Roma antiga, Marco Agripa defendia a idéia de que as obras de arte deveriam ser mostradas a todos sem distinção, mas apenas em 1750 é inaugurado, pelo governo revolucionário, o primeiro museu público na França, socializando obras de arte até então apreciadas por poucos homens pertencentes a uma mesma casta considerada especial.
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Osmar Pisani O primeiro Museu de Arte brasileiro a ser criado por Lei, o MASC, acaba de receber da Associação Brasileira de Críticos de Arte, o Prêmio Menção Honrosa, em nível nacional. É um órgão que essencializa a cultura catarinense pela qualidade de suas exposições e sobretudo pelo dinamismo que imprime às atividades ali desenvolvidas. |
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Sandra Makowiecky Sal O Museu de Arte de Santa Catarina, criado em 1949 e inaugurado em 1952 percorre uma trajetória que o transforma em uma instituição impar no Estado. É um museu que submete a apresentação e a ordenação de seu acervo a constantes críticas, buscando inserir possibilidades de novas interpretações, enriquecidas através da procura de um relacionamento maior com o fato social e com a vida cultural da comunidade. |
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Thalma de Oliveira Rodrigues Sálvio de Oliveira, meu pai, foi um homem inteligente, dinâmico e empreendedor. Entre as inúmeras façanhas que realizou em nome deste impulso em direção ao fazer cultural a que lhe dava mais orgulho era ter sido o primeiro diretor do MASC, “o filho querido” criado com amor e entusiasmo. Entre eles ...VENTO SUL Mas o trabalho de implantação do MASC e do teatro Álvaro de Carvalho eram constantemente lembrados por Sálvio como as suas mais importantes realizações em todos os lugares onde sua vida o levou, da Argélia ao interior de Minas com a Barca da Cultura subindo o Rio São Francisco. |
A Ilha Ilhada
Meados da década de 40. Florianópolis era uma cidadezinha acanhada e acomodada, parada no tempo, Ilhada Ilha, se bem que boa de viver. Necessitava de uma violenta sacudidela. E o momento era propício: a inquietação do pós-guerra mundial; esperança de um mundo melhor e mais solidário; a busca de novos caminhos; o desconforto de jovens e menos jovens, diante do panorama que se lhes descortinava como futuro, se não se mexessem, lutassem.
Na cidade, a insatisfação de alguns poucos diante do que viam, a sensibilidade de raros administradores, o incentivo de catarinenses residindo no Rio de Janeiro. As condições apontavam para mudanças. Bastava querer, brigar pelo novo, inventar, arrojar-se.
Tudo isto se conjurou em determinado instante e possibilitou aquilo que viria, dentro de pouco, sacudir o modorrento ambiente artístico-cultural da terrinha, marcada por uma curiosa dualidade: duas famílias dominando o pedaço, dois partidos políticos se revezando no poder, dois clubes sociais, dois clubes de futebol, dois clubes de remo, até mesmo duas ruas onde tudo desembocava. Rara a freqüência às belíssimas praias. À noitinha, era o tradicional “footing”, do Ponto Chic até o início da Praça XV. Sempre idêntico o cenário: os rapazes postados à beira das calçadas e as moças circulando. Daí surgiam namoricos e até casamentos. Mas havia uma divisão – e também ali a dualidade se fazia presente: as mocinhas da melhor sociedade jamais se aventuravam a circular pelo interior da Praça XV; aproximar-se da Figueira só durante o dia. Por ali eram as empregadinhas domésticas; ou as chamadas de “fáceis”, em busca de programas com rapazes; estes sim, depois de determinada hora (entre oito e dez da noite) abandonavam seus postos na beira das calçadas e saíam em busca de aventuras. O que mais? Ah, sim, é bom lembrar das sessões de cinema e dos bailaricos, do futebol e do remo.
A Gestação
Um reduzido grupo de jovens sufocava naquele ambiente. Começaram por se reunir em cafés, bares, esporadicamente restaurantes, na residência de um ou outro, esqueciam-se do passar das horas sob a Figueira, emendavam a noite com o amanhecer, calcurriando as ruas, ajudavam a fechar o Miramar, o Gato Preto, o Poema Bar ou um barzinho mambembe nas cabeceiras da Ponte Hercílio Luz.
Discutiam o futuro, quais as perspectivas de vida, o que fazer e como fazer. Alguns tinham veleidades literárias. Aventuravam-se a colaborar num tablóide intitulado Folha da Juventude (1946). (Que, pouco depois, publicava uma Página de Arte Moderna, dirigida pelo Aníbal Nunes Pires, o nosso Mario de Andrade). Não bastava. Quatro deles, mais insatisfeitos, que se autodenominavam “Os Quatros Justos”, partiram para um jornalzinho datilografado, Cicuta (1947). O próprio título já dizia ao que vinham, com o número quatro dominante: quatro colaboradores, quatro páginas, quatro exemplares, quatro números – e fim. O slogan do jornal, para que ele pudesse passar de mão-em-mão, pedia: “É costume do leitor Dar um fim desolador A quase todos jornais Mas leitor, não sejas mau Não faças a este jornal O que se fez aos demais!”. E no editorial do primeiro número se afirmava que era ele resultado do “ócio” e que “Não tendo o que fazer, os ‘Quatro Justos’ se reuniram no Café Rio Branco, centro predileto dos vadios, e lá, entre um gole de amargo café e uma praga a esta vida ruim, decidiram lançar o seu boletim oficial, canal que levará ao público os dissabores, o amargo e o doce de suas vidas e de sua eterna quebradeira”. Exemplo do humor e da irreverência foi o que se fez com o então presidente da Assembléia Legislativa. Chamava-se Estivalet Pires. A piada, infamemente primária, causou reboliço e indignação entre os bem pensantes. Dizia: “Esti...valet não chegará a rei.” O jornalzinho foi disputado, elogiado, criticado.
Tudo ainda insuficiente. Enquanto isso, o grupo aumentava. Novos novos chegavam. Eram, em sua quase totalidade, classe média ou classe média-baixa, vindos de diferentes regiões do Estado.
Certo dia, alguém lembrou: por quê não partimos para uma revista que dê o nosso recado, transmita o que pretendemos, deixe gravada nossa mensagem? Exemplos logo lembrados: Horizonte, de Porto Alegre, Clã, de Fortaleza, Joaquim, de Curitiba, que se tornaria mais conhecida como a revista do Dalto Trevisan. O primeiro passo foi pensar-se que tipo de publicação; depois, o título, muito importante. Tão importante que passaram-se semanas, e o consumo de boas doses de bebida, ou do “amargo café”, até se definir: estava-se no sul, então porque não Sul – sem nem ao menos sonharem que já existia, na Argentina, uma importante revista, dirigida pela escritora Vitoria Ocampo, com este título. Lá, colaborava, entre outros, Jorge Luiz Borges. (Mas os contatos com a Argentina ficam para adiante. Só que é bom acentuar, desde já, que se deveram, basicamente, a duas pessoas, o escritor Marques Rebelo e o escritor português Antonio Simões Jr. exilado da ditadura salazarista).
Só que havia outro “porém”: cadê recurso? Textos já existiam. Como todos os jovens, em todas as épocas e em todos os quadrantes do universo, quando alguém empunhava um texto e pedia, “me lê”, outro retrucava, puxando do bolso dele, “tá bem, mas também vais ler o meu.”
Até aí nenhum problema maior. Com a audácia que deve ser apanágio dos jovens (não só deles), já estavam se infiltrando pelos jornais da terra (O Estado, A Gazeta, Diário da Tarde). Era pouco. E era difícil. Saída mesmo só a revista. E os recursos para a impressão? Para que não morresse, praxe comum, do mal do primeiro, do terceiro, do sétimo número? Para que adquirisse estabilidade e credibilidade? Para que fosse algo instigante, provocativo.
Em dado momento, outro alguém (sempre surge outro alguém) lembrou: e teatro, por que não montamos uma peça – e com os recursos arrecadados lançamos a revista? Que peça? Como? Em que espaço? Existiam, viáveis, dois: o da UBRO – União Beneficente Recreativa Operária, e o TAC – Teatro Álvaro de Carvalho. Depois de muita discussão, decidiu-se por um espetáculo com três peças de um ato e pelo TAC, mais central, embora o da UBRO não fosse descartado, lá viriam a se realizar ensaios e até espetáculos. Assim foi feito. As peças: O homem da flor na boca, de Pirandello; Como ele mentiu ao marido dela, de Shaw; Um homem sem paisagem, de Ody Fraga e Silva (que por então se assinava Ody F.S. e dirigiu o espetáculo). O sucesso foi tanto que houve necessidade de uma segunda apresentação; a peça do Ody (pouco depois publicada na revista Sul), substituída por uma de Sartre, As Estátuas Volantes, adaptação de um conto do livro O Muro. Era a primeira apresentação de uma peça do papa do existencialismo no Brasil. E a primeira récita, casa lotada, no dia 7 de novembro de 1947. A segunda também lotou. O resultado da bilheteria foi tão positivo que deu, feitos os cálculos, para bancar até os dois primeiros números da revista e mais um jantar em um dos clubes da cidade. Bem verdade que o evento contou com a colaboração do Centro Acadêmico XI de Fevereiro, da Faculdade de Direito, onde integrantes do grupos já estudavam.
Resultado: em janeiro de 1948 aparecia o número 1 da revista Sul. O Editorial, assinado por Aníbal Nunes Pires, em certo trecho dizia: “...somos acusados de iconoclastas, destruidores atômicos de tudo quanto nos legaram os nossos antepassados. Absolutamente. Agradecemos sinceramente o que nos legaram. Mas só admiramos e agradecemos àqueles de cujas obras o tempo fez sua admirável seleção.” E mais adiante: “a Sul (Círculo de Arte Moderna), que hoje apresentamos a Florianópolis, se propõe, na medida das coisas possíveis, revelar novos valores e acompanhar as idéias do mundo atual no campo da filosofia, da ciência, da cultura e, principalmente, no campo das artes e das letras”. Um projeto pra lá de abrangente e ambicioso. E no número quatro, em outro Editorial assinado pelo mesmo Aníbal, uns versos do poeta português José Régio: “Não sei por onde vou não sei para onde vou sei que não vou por aí”, que assinalava a trajetória futura da revista, como quem diz ser contra a mesmice, o rebanho, o sim-senhor. E desde o início, a preocupação não era apenas com a literatura, mas também com o teatro, o cinema, as artes plásticas, a música, as manifestações de cultura popular, o debate das idéias. Claro que isto foi se concretizando aos poucos, à medida que o grupo amadurecia, se consolidava e adquiria mais visão de um universo cultural que não tinha, por então, como conhecer em sua totalidade. Será que alguém, algum dia, chega a isto?
Os Preparativos
O primeiro número da revista Sul era informe, incaracterístico, feito por pessoas que nunca haviam passado perto de uma gráfica. Composição manual, impressora que já devia estar em museu. O segundo, idem. O terceiro, já composto em linotipo, dando-se maior atenção às colaborações, e à apresentação gráfica, dedicado ao cinquentenário da morte de Cruz e Sousa, um tantinho melhor. E nele, uma noticiazinha em forma de pergunta: “ Marques Rebelo em Florianópolis?” Como se o pessoal da Sul nada tivesse a ver com aquilo.
A vinda do escritor, com sua Exposição de Arte Contemporânea, estava sendo preparada, ao mesmo tempo, em várias frentes: no Rio, pelo senador Ivo de Aquino, pelo médico, advogado, político em embrião e jornalista Jorge Lacerda (que por então dirigia o suplemento cultural de Letras e Artes), e por um grupo de jovens (Flávio de Aquino, José Silveira D’Ávila, Moacyr Fernandes, Alcídio Mafra de Souza) cujo ponto de reunião básico era o Vermelhinho, principal reduto de encontro da intelectualidade brasileira. Quem não freqüentava o Vermelhinho não acontecia. Todos eles se tornariam nomes significativos – e não só para a cultura de Santa Catarina.
No número 5 da Sul, nova notícia, agora não mais em forma de pergunta, mas em tom afirmativo: “Marques Rebelo em Florianópolis.” Dizia, em síntese, que estava confirmada a vinda do escritor, com a exposição e, em certo trecho, acrescentava: “Traz à nossa cidade pintores sobre os quais muito falamos, mas de cujas obras só conhecemos reproduções. Portinari, Pancetti, Segall, Santa Rosa, etc.” Neste “etc” estavam dezenas de outros.
A primeira carta a respeito foi do Flávio de Aquino, colega de estudos e amigo do Aníbal Nunes Pires. Começava dizendo: “Só ontem chegou-me às mãos um número da tua revista. Bravos! Nunca pensei que fosse possível romper o marasmo da terra e falar-lhe, sem rebuços, em arte moderna, em poesia moderna, em Vinícius de Moraes. Esperava isso para o século XXI.” Depois, como se fosse necessário, insistia no apoio ao Rebelo; e acrescentava: “Vai dar movimento à terra, ‘épater le bourgeois’ e apoiar, ao vivo, o pensamento do teu grupo.” Aníbal logo respondeu, por telegrama. Não demora a carta seguinte, agora do próprio Marques Rebelo. Avisa da chegada, pede que o esperem no aeroporto – e o mais importante, que lhe consigam acomodação, pois não gosta de hotéis. Aliás, nem era bem de hotéis, mas dos de Florianópolis. Dizia: “Preferiria não ir para hotel. Já passei uma noite aí a caminho do sul, pernoitei no LaPorta e não fiquei satisfeito. Suporto tudo numa casa de família, mas num hotel sou exigente. Você compreende, não é? Ora, se um dos rapazes da Sul tivesse a gentileza de me receber eu ficaria muitos satisfeito. Não precisava comida, só dormida.”
Impossível numa casa qualquer, mesmo porque alguns moravam em quartos de pensão. Acabou-se optando pelo casarão da Dona Cecy, mãe do Hamilton Ferreira, um dos formadores do grupo.
A Exposição
Se o número 5 da revista confirmava a vindo de Rebelo com a Exposição, no número 6, dezembro de 1948, tendo na capa uma obra do norte-americano Calder, ampla reportagem ilustrada, assinada por Archibaldo Cabral Neves, começava afirmando: “25 de Setembro de 1948 (sábado) – 6 de outubro de 1948 (quarta-feira) para muita gente foram apenas dois dias a mais que passaram, mas, para nós de Sul e para as pessoas interessadas na verdadeira pintura, não apenas os dois dias mencionados, como os intermediários, foram uma época de aprendizagem e de conhecimentos amplificados, sobre a pintura em geral e o contemporâneo em particular.” Local: pátio interno do Grupo Escolar Dias Velho, sob os auspícios da Secretaria de Justiça, Educação e Saúde, prédio onde hoje funciona a Faculdade de Educação da UDESC.
A exposição se concretizara graças a sensibilidade do governador Aderbal Ramos da Silva, do Secretário da Educação Armando Simone Pereira, do pessoal do Rio de Janeiro e dos componentes do Grupo Sul (como passaria a ser conhecido o Círculo de Arte Moderna, denominação original, cremos desnecessário dizer que era uma referência à Semana de Arte Moderna de 1922). A semente deitou raízes. E se houve incentivo e apoio, houve, também, críticas acerbas, virulente, um colunista de jornal afirmando indignado que “aquilo que se mostrava como arte, no espaço público da uma escola, era um acinte, afronta aos nossos foros culturais”, enquanto um pecuarista reclamava dos bois de Iberê Camargo. Além dos pintores brasileiros, havia reproduções do alemão Kubin, argentino Pettoruti, austríaco Leskochesk, espanhol Gomes de La Serna, franceses Lurçat, Derain, Dufy, Leger, português Joaquim Tenreiro, russo Zadkine, tcheco Jan Zak, entre outros, num total de 74 peças; e uma “contribuição infantil”, de José Maria, filho do Rebelo, hoje José Maria Dias da Cruz, nome expressivo da moderna pintura brasileira, e ainda destaque para os catarinenses Martinho de Haro e Eduardo Dias. Da mesma forma, pouco depois, quando de exposição em Minas Gerais, outra contribuição infantil lá estava, do nosso Rodrigo de Haro, hoje renomado pintor e poeta. Por aí se vê o faro do Rebelo...Não era só de literatura que o homem entendia. E não foi só em Florianópolis que sua ação em prol das artes plásticas se fez sentir. Exposições idênticas – e com idênticos resultados, foram levadas, também, a Resende-RJ e Cataguases-MG. (Vejo-me, aqui, na obrigação de dar um depoimento mais pessoal – se bem que todo este, em boa parte, já o é: Francisco Inácio Peixoto, de Cataguases e Marques Rebelo, do Rio, haviam estudado com Odílio Malheiros, pai da Eglê; e depois do golpe militar, quando fui me exilar no Rio e passei a trabalhar na imprensa, [Empresas Bloch], das primeiras pessoas que conheci foi o jornalista e escritor Macedo Miranda, que ajudara Rebelo na aventura da exposição de Resende, onde também se criou um Museu de Arte).
Aqui é bom outro lembrete: Flávio de Aquino, catarinense, professor, crítico de arte, arquiteto, jornalista, que faria parte da equipe de Oscar Niemeyer, preparou um ante-projeto de prédio para o Museu, que nunca chegou a sair do papel. Pode ser retomado? Pode!
Premonição
No mesmo número 6 da SUL, junto à reportagem da Exposição, aparece um texto de Rebelo, com várias reproduções, sob o título “Um grande artista argentino e a paisagem catarinense.” O artista chamava-se Jorge Larco, eram todas aquarelas sobre Canasvieiras (a igreja, o cemitério, a Ilha do Francês, a horta, os abacaxis). Seria premonição do escritor? Naquela época, raríssimos os turistas de qualquer nacionalidade – mesmo argentinos, que décadas depois invadiriam e se extasiariam com a Ilha já não tão ilhada. Em certo trecho diz Rebelo: “Ser artista é identificar-se. E Jorge Larco identificou-se com a paisagem brasileira.” Mais adiante: “Em suas aquarelas de mestre, está gravado esse essencial que caracteriza a costa catarinense...” Para assim concluir: “Nada escapou ao seu olhar penetrante; e ali está também o homem resignado, anestesiado, ínfimo e abandonado, sofrendo sua paisagem de desoladora beleza.” Mas ao tema Rebelo/Buenos Aires/Grupo Sul, teremos que voltar mais adiante.
Nos dias 28, 29, 30 de setembro foram proferidas palestras, instigantes e provocativas para o meio tão acanhado, seguidas de acalorados debates, Rebelo reiterando que “pintura não é imitação da natureza, mas interpretação da natureza”. Insaciáveis, isto não bastava; os jovens queriam sugá-lo ao máximo; longos papos varavam a noite, em restaurantes, cafés, até bares (ele não parecia muito apreciador de bares), sob a Figueira da Praça XV, Rebelo incansável ouvindo os jovens a questioná-lo. Uma frase, então, se tornou corriqueira, sempre repetida: “êta velhinho legal!” Ele mal chegara aos 40 anos, (nasceu em 1907) mas era “matusalêmico” para os jovens recém entrados nos anos 20.
Como resultado imediato da exposição. Surgiu um pequeno Museu, o pátio Marques Rebelo, sob a guarda de Martinho de Haro. O acervo inicial logo foi ampliado. Rebelo conseguiu, com o governador de São Paulo, Ademar de Barros, doação de quadros dos principais pintores paulistas. O mesmo fizeram, se bem que em doses reduzidas, o poder público estadual e particulares.
MAMF
Não demora, seis meses depois, é criado o Museu de Arte Moderna de Florianópolis. A data: 18 de março; o número do decreto: 433. E foi nomeada uma comissão, assim composta: Henrique Stodieck, Marques Rebelo, Wilmar Dias, Rubens de Arruda Ramos, Hamilton Valente Ferreira (do Grupo Sul), Martinho de Haro, “para determinar providências necessárias ao seu funcionamento, instalando-se no pátio interno do Grupo Escolar Dias Velho, sob a guarda e responsabilidade de sua diretora, professora Julieta Torres Gonçalves.” Ali, depois sob a direção de Sálvio de Oliveira, funcionou por mais de um ano.
A propósito, Hamilton Ferreira, que logo se transferiria para o Rio de Janeiro, publica um texto que começa assim: “Este decreto provoca uma série de parabéns. Em primeiro lugar, à mocidade catarinense, em especial a uma pequena turma de rapazes que a voz geral considerava amalucados, comunistas, reacionários, imorais, e mais uma porção de coisas assim e que, no entanto, não eram nada disso, eram jovens que haviam conseguido sair para o mundo e ver quanta coisa havia fora de sua pequena terra. Depois, ao escritor Marques Rebelo que, descobrindo a existência daquele círculo de interesses pelas coisas da literatura e da arte, esteve com sua exposição em Florianópolis e, tanto agradou, que se fundou o Pátio Marques Rebelo, onde está funcionando o recém-fundado Museu de Arte Moderna de Florianópolis. E ainda o Estado de Santa Catarina e seu Governo, por essa coisa significativa que é a fundação do primeiro museu oficial de Arte Moderna no Brasil...” Bom acentuar que o “sair para o mundo e ver quanta coisa havia fora de sua pequena terra”, do Hamilton, era em sentido figurado. Viajava-se muito, sim, mas pela imaginação, pelas leituras, em debates, embora o desejo de viajar para valer existisse.
Explosão de Valores
E a partir daí, na verdade, pode-se começar a visualizar um panorama de artes plásticas em Santa Catarina, com o rápido surgimento de muitos valores. Deve-se ressaltar, no entanto, a participação e o incenctivo de vários nomes expressivos de outras regiões do país. Ainda em 1949, ano da criação do Museu, é a vez do escultor Bruno Giorgi, que doa uma escultura de grande beleza (O Rosto e a Máscara) e profere a palestra, também com enorme repercussão; não demora, inícios da década de 50, é a vez de Carlos Scliar passar passar uma quinzena dando um curso de gravura e reunindo-se com jovens que se iniciavam na difícil arte da linóleogravura, do desenho, do óleo, da aquarela; também é bom assinalar a presença de outros nomes, entre eles Edgar Koetz, gravurista, pintor e capista da Editora Globo, e de Trindade Leal, que executa aqui uma série de xilos sob um mesmo tema, o lobisomem. E em 1958, quando o Grupo Sul dá por concluída sua missão, é criado do GAPF – Grupos de Artistas Plásticos de Florianópolis, ao mesmo tempo continuação e evolução do trabalho que se vinha realizando através das páginas da Sul e ponto de partida para a afirmação de alguns de nossos mais significativos artistas plásticos. Bom não esquecer o incentivo para que Martinho de Haro desse novo impulso à sua excepcional obra pictórica.
As seguintes peças, doadas por Marques Rebelo, constituiram a semente do MAMF: desenhos de Aldary Toledo, Santa Rosa, Noêmia Mourão; litografia de Kubin e aquarela de Jan Zach. Jorge Lacerda doou um desenho de Goeldi e Flávio de Aquino outro de Noêmia Mourão. Doados pelos próprios artistas havia aquarelas de José Maria e José Nery, um desenho de Aldemir Martins e outro de Santa Rosa a estas 11 doações somaram-se seis aquisições da Secretaria de Justiça, Educação e Saúde: três óleos, de Iberê Camargo, Djanira, Rubem Cassa e três gravuras de José Silveira D’Ávila. De acordo com o levantamento do museu, destas 17 obras do núcleo inicial, quatro sumiram: o desenho Mãe e Filho, de Noêmia, doado por Flávio de Aquino, o desenho de Goeldi, doado por Jorge Lacerda, a água-forte Gatos, de José Silveira D’Ávila, e o desenho ilustração, doado por Santa Rosa.
Até conseguir um espaço relativamente adequado, o MAMF, que em 1970 passaria a se intitular MASC – Museu de Arte de Santa Catarina, andou por várias, insalubres e inapropriadas salas, entre elas na Alfândega, na Casa de Santa Catarina, local onde hoje se encontra a Biblioteca Pública, numa casa na Avenida Rio Branco. Foi uma trajetória acidentada. Chegou a ter suas peças recolhidas num depósito do TAC. Registros de visitantes se encontram nos arquivos: um casal de turistas do Rio, deixa consignado que acabara “de constatar um crime em plena Florianópolis. Entramos pela janela! Encontramos os quadros jogados no chão – entre garrafas de champanhe. INCRÍVEL! Não sei se ficamos com raiva ou pena...”; outro afirma que, durante um coquetel qualquer, copos eram colocados em cima das telas. E no número 13 da Revista Sul cobravam-se providências para a instalação do MASC em lugar condigno. Felizmente ele conseguiu sobreviver a tudo isto. E se hoje não se encontra em condições ideais, caminha para isso, já tendo, até, sala climatizada.
Ao longo desses 50 anos (serão completados em 18 de março de 1999) dirigiram-no Sálvio de Oliveira, Martinho de Haro, João Evangelista, Carlos Humberto Correia, Aldo Nunes, José Silveira D’Ávila, Humberto Tomasini, Harry Laus (duas vezes), Edson Bush Machado, Hugo Mund Jr., Maria Teresa Collares, todos lutando por preservá-lo e ampliá-lo. Hoje, hospedado no CIC – Centro Integrado de Cultura, com um acervo de mais de 1.200 peças, é referência obrigatória no Brasil e no exterior, reconhecido por sua participação efetiva e valorização não apenas de nossos artistas, mas pela contribuição que dá à preservação e renovação no setor das artes plásticas e no apoio e incentivo aos novos valores. Seu atual diretor é o artista plástico Rubens Oestroem.
Intercâmbio
Em duas ocaisões, no transcorrer deste relato, referimo-nos à Argentina. Chegou a hora de sucintos esclarecimentos.
Rebelo, para além de excelente escritor, não foi apenas um apaixonado incentivador e divulgador das artes plásticas no país, (e também colecionador). Fez o mesmo na Argentina e no Uruguai. Na Argentina, em 1945, realizou uma exposição intitulada 20 Artistas Brasileños, promovida pelo Ministério de Justicia y Instrucción Publica de la Nación, através da Subsecretaria de Cultura. Na justificativa se dizia: “Que la referida muestra comporta uma seleción representativa de las tendencias del arte en Brasil; que el conocimiento recíproco de los exponentes de la cultura de dos naciones hermanas contribuirá aún más a afianzar la unidad espiritual de sus pueblos.” E que, diante disso, “Resuelve: llevar a cabo em los Salones Nacionales de Exposición, sitos en la calle Posadas número 1725, la Exposición de los 20 Artistas Brasileños, de la que es portador el señor Marques Rebelo.”
Na Introdução, Rebelo explica os critérios adotados para a seleção, dizendo que durante muito tempo “não tínhamos senão deploráveis imitações de escolas de belas artes e museus; não tínhamos galerias expositoras nem coleções particulares que estimulassem pelo contato e divulgação das obras, o interesse pelas artes. E como também não possuíamos publicações especializadas, faltava-nos orientação crítica.” Pouco depois: “A arte moderna, que surgiu no Brasil em 1922, pelo esforço de escritores, trouxe um novo ambiente para as artes, traçando-lhes também um caminho seguro.”
O mesmo que, um quarto do século depois, viria ocorrer em terras catarinenses, a partir da capital. Santa Catarina, no terreno das artes em geral, nem chegara ao estágio de antes da Semana da Arte Moderna de 1922, semana que já começara até a ser reavaliada, por elementos do grupo básico, Mário de Andrade por exemplo, que em lúcida crítica examinava seus acertos e desacertos.
Creio ser de interesse, mais de meio século transcorrido, relacionar os 20 pintores da mostra em Buenos Aires. Ei-la: Guignard; Alcides Rocha Miranda; Aldari Toledo; Portinari; Carlos Leão; Clóvis Graciano; Djanira; Di Cavalcanti; Hilda Campofiorito; Iberê Camargo; José Alves Pedrosa; José B. Cardoso Jr.; José Pancetti; Milton Dacosta; Orlando Teruz; Percy Deane; Quirino Campofiorito; Burle Marx; Tarsila; Santa Rosa.
Ampliação de Contatos
Marques Rebelo e Antonio Simões Jr. abriram caminho para um conhecimento, em bases solidas, da cultura dos países vizinhos. Mais um serviço que os jovens de Florianópolis ficam a lhes dever. Em pouco, começava-se a receber publicações, correspondências. Logo estava-se com correspondentes da revista em Buenos Aires e Montevidéu. Foram aparecendo contos, poesias, artigos de crítica, ilustrações, capas, duas deles de Pettoruti, talvez influência de Marques Rebelo, que tinha grande admiração pelo pintor argentino. Blanca Terra Viera era a correspondente em Buenos Aires (e também, embora seu nome não aparecesse no expediente, o Antonio Simões Jr.); de Montevidéu, Matilde Despaux. E lá, a revista e as edições Sul, tinham um ponto fixo de venda, a Livraria Monteiro Lobato. De 1949, por exemplo, é a carta da argentina Sara Sabor Vila, que diz, entre outras coisas, “He leido com sumo placer su contenido (Sul n.6), y puedo manifestarle sinceramente que ella honra a las letras y al arte brazileño, por la seleción del material que la compone, tanto artistico como literario.” De 1949 pulemos para 1957, ao doutor Roberto Martinez, professor do Colegio Nacional de la Universidad de la Plata, que diz: “Se por referencias que ‘Sul’ es uma de las mas prestigiosas tribunas intelectuales del Brasil...” Não só de Buenos Aires chegava correspondência. Também de outras regiões. (Será que fica exagerado dizer que, em determinado momento, praticamente de todo o mundo?). Como esta, da direção da revista Tarja, de Jujuy: “Nos es sumamente grato poder hacerle llegar um número de nuestra revista. Deseamos, al mismo tiempo, manifestarle nuestros deseos de mantener canje com la interesante revista de su dirección. Es innecesario destacar quanto provecho nos reportará el conocer las atividades literarias de lugares tan distintos.” E por último, de um então jovem poeta, Rodolfo Alonso, que se tornaria nome dos mais expressivos da moderna poesia argentina. Dizia ter tido notícia que ele, e mais outros poetas jovens argentinos (Raúl Gustavo Aguirre, Edgar Bayley, Osmar Luis Bondoni, Francisco Urondo, Francisco José Madariaga) haviam sido publicados em Sul e que todos gostariam de receber exemplares da revista.
Será que essas achegas, (para o livro dos 50 anos do MASC), de um fato ocorrido há tanto, chegaram longe demais? Não sei! Mas como se costuma dizer que somos um povo de memória curta, ou até sem memória, resolvi desencavar dados do conhecimento de bem poucos. E, afinal, se existe necessidade de outra qualquer desculpa, posso acrescentar que estive envolvido em tudo que aí ficou.
Fiquei mais no ante-ontem do que até mesmo no ontem, e nada, ou quase nada, no hoje. Mas o ante-ontem e o ontem, tanto quanto o hoje que amanhã já será ontem, nos fazer (re) pensar o passado e tentar uma projeção para o amanhã. Que, esperamos, torcemos, seja melhor, mais humano, mais solidário, sem tantas desigualdades.
Qual será o amanhã do MASC? Que ele é, hoje, uma realidade, ninguém duvida nem discute. Quanto ao seu futuro, já é outra história, como diria Kipling.
Esperamos que todos continuem se empenhando para que seja, cada vez mais, uma bela história.
Fonte: Biografia de Um Museu
Introdução
O final da década de 40 foi particularmente fértil para as artes plásticas brasileiras, com a criação de diversos museus. Em São Paulo, o jornalista Assis Chateaubriand funda o MASP (1947) e o industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, Ciccilo, o Museu de Arte Moderna (1948). No Rio de Janeiro, Niomar Muniz Sodré, diretora do “Correio da Manhã”, forma outro Museu de Arte Moderna (1948). Em Santa Catarina, no governo de Aderbal Ramos da Silva, é oficializada a Arte Moderna com a assinatura do decreto n° 433, de 18 de março de 1949, criando o Museu de Arte Moderna de Florianópolis.
Passados 38 anos, o Museu de Arte de São Paulo firmou-se como o mais importante museu do gênero, em toda a América Latina, e o MAM do Rio reinaugura sua imponente sede, recuperada de um incêndio que, em 1978, destruiu parte de seu valioso acervo. O MAM – SP, ainda não refeito do golpe sofrido em 1963, quando o mesmo Ciccilo transfere o acervo para o recém-criado Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, luta pela sobrevivência numa sede improvisada sob as pérgolas do Ibirapuera.
Quando ao MAMF, deixou de ser municipal para transformar-se em estadual, passando a chamar-se Museu de Arte de Santa Catarina por decreto n° 9.150, de 4 de junho de 1970, do governador Ivo Silveira. Depois de perambular por diversas sedes provisórias, encontra-se instalado em amplas dependências do Centro Integrado de Cultura Prof. Henrique da Silva Fontes, desde 1983, tendo tudo para transformar-se no mais significativo Museu de Arte do Sul do Brasil.
Antecedentes
O ponto de partida para a criação do atual Museu de Arte de Santa Catarina pode ser considerada a grande Exposição de Arte Contemporânea, trazida a Florianópolis pelo escritor carioca Marques Rebelo (Eddy Dias da Cruz, 1907-1973). Montada no Grupo Escolar Modelo Dias Velho – hoje Escola Básica Antonieta de Barros – despertou os comentários mais desencontrados, de repulsa a aprovação, enquanto esteve aberta à visitação pública, entre 25 de setembro e 6 de outubro de 1948, na esquina das ruas Victor Meirelles e Saldanha Marinho, em pleno centro da cidade.
Mais há outros pontos a considerar pois, sem eles, não teria sido possível a vinda da mostra. Avulta como principal, a existência do Círculo de Arte Moderna, fundado em 1947, e que pasou a ser conhecido como Grupo Sul, em vista de uma revista editada com o nome de Revista SUL, cuja existência foi de dez anos (jan. 1948 – dez. 1957), conquistando renome nacional. O CAM era formado de escritores e artistas jovens, preocupados em sacudir a província, acomodada aos velhos padrões, com manifestações modernas de teatro, literatura, poesia, cinema e artes plásticas. Fundado por Aníbal Nunes Pires, Ody Fraga e Silva, Eglê Malheiros, Salim Miguel e Antônio Paladino, o CAM logo recebeu a adesão de muitos outros, como Elio Balstaedt, Valmor Cardoso da Silva, Pedro Taulois, Hamilton Valente Ferreira, Claudio Bousfield e Archibaldo Cabral Neves.
Archibaldo, no n°6 da Revista Sul (dez. 1948), escreve sobre a Exposição de Arte Contemporânea, dizendo que “Florianópolis nunca tinha visto uma verdadeira exposição de pintura contemporânea”. Eram 79 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras, aquarelas e guaches, assinadas por artistas estrangeiros como Leskochesk, Lurçat, Lèger, Dufy, Vlaminck, Arpad Szenes, Zadkine, Jan Zach, e brasileiros do porte de Iberê Camargo, Pancetti, Burle Marx, Bruno Giorgi, Milton Dacosta, Djanira, Di Cavalcanti, Teruz, Segall, Portinari, entre outros. Como se vê, uma mostra importante até para os dias de hoje.
A exposição continha também alguns quadros extracatálogo de Martinho de Haro (1907-1985), prêmio de viagem à Europa em 1939, e um de Eduardo Dias (1872-1945), cuja obra o MASC mostra neste momento. É o próprio Martinho de Haro quem declara: “Além de quadros de minha autoria, levei um quadrinho de Eduardo Dias, de grande beleza, para representar Santa Catarina” (Suplemento Especial de O Estado, de 14.05.1976).
Complementando o acontecimento, Marques Rebelo pronunciou três conferências, a 28, 29 e 30 de setembro. A tônica destes pronunciamentos pode ser entrevista numa frase do escritor que provocou críticas indignadas dos mais conservadores: “Pintura não é imitação da natureza, mas interpretação da natureza”.
Outro ponto positivo foi o apoio do governo, através da Secretaria da Justiça, Educação e Saúde que tinha à frente Armando Simone Pereira. Ele foi apresentado a Marques Rebelo no Rio, por Jorge Lacerda, “misto de médico, advogado, jornalista, político” – no dizer de Salim Miguel – e que chegaria a deputado federal e governador do Estado de Santa Catarina. Depois desse encontro, a idéia foi tomando vulto, Marques Rebelo correponde-se com Aníbal Nunes Pires, da Revista Sul, e tudo fica acertado, chegando ao escritor com seu carregamento mágico, semndo hospedade por Hamilton Valente Ferreira, também do Grupo Sul.
Pátio Marques Rebelo
Ao vir a Florianópolis, em 1948, Marques Rebelo já tinha notoriedade nacional com a publicação de Oscarina (1931), Três Caminhos (1933), Mafra (1935), A Estrela Sobe (1939) e Stela me Abriu a Porta (1942). Não admira, pois, que seu prestígio junto ao Ministério de Educação e Cultura (ele foi Inspetor do Ensino Secundário) e junto ao Itamarati, mais o vasto currículo de relações entre intelectuais, artistas, jornalistas e políticos, tenha facilitado a reunião de tantas obras para a Exposição de Arte Contemporânea. As intenções do escritor não eram somente mostrar a arte e atualizar conhecimentos pictóricos. Marques Rebelo queria deixar raízes que frutificassem em museus (como fez em Florianópolis, Rezende e Cataguazes). Para tanto, além da exposição propriamente dita, vinha acompanhado de outras obras, de sua coleção particular ou a ele confiadas pelos artistas, que eram doadas ou vendidas para a garantia da permanência de sua idéia.
Aqui em Florianópolis, por exemplo, ele consegue sensibilizar Armando Simone Pereira e outras autoridades locais, deixando um “museu em formação” no mesmo local onde se realizara a famosa Exposição: o pátio (apesar de se tratar de um recinto fechado) do Grupo Escolar Dias Velho, que passaria a chamar-se Pátio Marques Rebelo – “com placa e tudo”, como informa Hamilton Valente Ferreira.
Esta semente do futuro Museu de Arte Moderna de Florianópolis, continha as seguintes peças: doadas pel próprio escritor: desenhos de Aldary Toledo, Tomaz Santa Rosa e Noêmia Mourão; litogravura de Alfredo Kubin e uma aquarela de Jan Zach. Jorge Lacerda doou um desenho de Oswaldo Goeldi e Flávio de Aquino outro de Noêmia Mourão. Doados pelos próprios artistas havia aquarelas de José Maria e José Nery, um desenho de Aldemir Martins e outros de Santa Rosa. A estas onze doações, acrescentavam-se seis aquisições da Secretaria da Justiça, Educação e Saúde: três óleos, de Iberê Camargo, Djanira G. Pereira e Rubem Cassa, e três gravuras de José Silveira D’Ávila.
(O atual acervo do MASC registra 13 destas 17 obras do núcleo inicial do MAMF, tendo desaparecido ao longo dos anos o desenho de Noêmia, “Mãe e Filho”, doado por Flávio de Aquino; o desenho de Goeldi, doado por Jorge Lacerda; a água-forte “Gatos”, de José Silveira D’Ávila; o desenho ilustração doado por Santa Rosa).
Primeira sede provisória do Museu: antigo Grupo Escolar Modelo Dias Velho.
Museu do Grupo
O Pátio Marques Rebelo, junto com a pressão do Grupo Sul e do próprio Secretário Simone, tornaram a criação do museu irreversível. É bastante sugestivo que o decreto tenha sido baixado pelo Presidente da Assembléia Legislativa, José Boabaid, “no exercício do cargo de Governador do Estado de Santa Catarina”, que o assina junto com o Armando Simone Pereira.
O decreto cria o Museu de Arte Moderna de Florianópolis, na Capital do Estado (dizem que iria chamar-se Museu de Arte Contemporânea, por ser mais abrangente, mas, “por imperícia ou falta de conhecimento de causa”, como se lê na Revista Sul n°13, ficou Arte Moderna). O Art. 2° estabelece o Grupo Escolar Modelo Dias Velho como sede, “a título provisório”, e o Art. 3° fala na nomeação de uma Comissão Especial para elaborar o regulamento e determinar providências necessárias ao seu funcionamento.
A comissão foi logo constituída: Marques Rebelo, Henrique Stodieck, Wilmar Dias, Rubens de Arruda Ramos, Hamilton Valente Ferreira e o pintor Martinho de Haro. Também não é esquecida a atribuição de responsabilidade sobre o museu, ficando encarregada de sua guarda a Prof.ª Julieta Torres Gonçalves, diretora do Grupo Escolar Dias Velho.
É grande o entusiasmo de quem lutou pela implantação do museu. Como Hamilton Valente Ferreira que, através do número 8 de abril/49 da Revista Sul, felicita a mocidade catarinense, “ em especial a uma pequena turma de rapazes que a voz geral considerava amalucados, comunistas, reacionários, imorais”; o escritor Marques Rebelo que, “descobrindo a existência daquele círculo de interesse pelas coisas da literatura e arte, esteve com sua exposição em Florianópolis, e tanto agradou que se fundou o ‘Pátio Marques Rebelo’ onde está funcionando o recém-fundado Museu de Arte Moderna de Florianópolis”. Os parabéns de Valente estendem-se também ao governo “pela fundação do primeiro museu oficial de Arte Moderna no Brasil”.
O prestígio de Marques Rebelo e o entusiasmo do Secretário Simone, naturalmente mesclados a interesses políticos da época, tiveram como fruto a ampliação paulatina do acervo do museu. A Câmara Municipal de Florianópolis oferece 13 reproduções de obras célebres de Rembrandt, Valazquez, Brughel, Cézanne, Marie Laurencin, Renoir (duas), Gauguin, Van Gogh, Picasso (duas), Matisse e Raoul Dufy. A Prefeitura Municipal adquire para o MAMF, por indicação de Marques Rebelo, uma aquarela de Jan Zach, um desenho de Emílio Pettorruti, um guache de Oscar Meira e dois óleos: de Roberto Burle Marx e Athos Bulcão.
Ademar de Barros, governador de São Paulo, doa oito óleos de artistas brasileiros premiados na capital paulista: Mário Zanini, Joaquim Figueira, Lúcia Suane, Fúlvio Penacchi, A.R.Rizzotti, N. Nóbrega, Volpi e Lula Cardoso Aires.
Em dezembro de 1949 vem a Florianópolis o escultor Bruno Giorgi e faz a doação da primeira escultura do MAMF, um gesso intitulado “A Máscara e a Face”. E particulares também doam obras, como Francisco Inácio Peixoto, um óleo de José Morais; Julieta Ramos, um desenho em cores de Augusto Rodrigues; Nilma Pancetti, o óleo “Retrato de Marina”, de José Pancetti; e Roberto Assunção, um desenho de Vera Assunção.
(Todas as obras citadas neste tópico, menos as reproduções, encontram-se tombadas pelo MASC. As reproduções, por estarem totalmente danificadas, sofreram baixa de escrituração em 1985).
Sálvio de Oliveira, primeiro diretor do Museu, na inauguração, em 15/04/1952.
O Primeiro Diretor
Marques Rebelo, embora distante de Florianópolis, naturalmente via com bons olhos o crescimento do acervo do MAMF e, mesmo de longe, parece ter sido um dos membros mais atuantes da Comissão Especial. Deve ter sabido, por exemplo, que a Professora Julieta, por medida de segurança, recolheu as obras a um depósito do Grupo Escolar. Antes que a idéia morresse, era preciso nomear um diretor para o museu. Por insistência do escritor, foi indicado a 15 de março de 1950 (um ano depois da criação), o primeiro diretor do Museu de Arte Moderna de Florianópolis: Professor Sálvio de Oliveira, com 32 anos, consultor técnico do Departamento de Educação do Estado, e que desenvolvia intensa atividade no meio cultural da cidade. Foi ele que, no ano seguinte, fundou e dirigiu o Teatro Catarinense de Comédia, tendo dirigido, inclusive, “A Sapataiera Prodigiosa”, de Garcia Lorca.
Com a nomeação de Sálvio de Oliveira – “um homem que sabe usar gravata”, como disse Marques Rebelo – começou nova luta, agora por uma sede onde o museu pudesse expor o acervo e desenvolver outras atividades. Não foi fácil. Ainda em abril de 1951, Salim Miguel escreve um artigo para a Revista Sul perguntando “a quem caberá a culpa a quase natimorte e conseqüente paralisação do museu”. Ele culpa a Comissão Especial, a falta de uma sala apropriada, ao empilhamento dos quadros “não sabemos onde” etc. E revela que o arquiteto e futuro crítico de arte Flávio de Aquino (1919-1987) chegou a fazer um esboço para a sede própria do MAMF, jamais construída.
Irineu Bornhausen já havia assumido o governo do Estado e Sálvio de Oliveira consegue aliados para a causa do museu: os Secretários de Estado João José de Souza Cabral, João Bayer Filho, Fernando Ferreira de Mello, o já deputado Jorge Lacerda, os jornalistas Nereu Corrêa e Layla Freysleben, entre outros.
Afastada a possibilidade de uma sede própria, por falta de recursos, o Prof. Henrique da Silva Fontes encontra uma solução intermediária. Ele era diretor da Casa de Santa Catarina (antigo Clube Germânia, desapropriado durante a II Guerra Mundial), situada numa grande casa da rua Tenente Silveira, esquina de Álvaro de Carvalho, onde hoje se ergue o edifício da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo. Remanejando os espaços ocupados pelo Instituto Histórico Geográfico, a Comissão Catarinense de Folclore, a Academia Catarinense de Letras e a Associação do Ex-Combatentes de Santa Catarina, o Professor Fontes conseguiu liberar uma sala para exposições.
Segunda Morada
Nesta Segunda morada, o MAMF ficaria por dezesseis anos, de abril de 1952 a outubro de 1968, conhecendo, além de Sálvio de Oliveira, três outros diretores: Martinho de Haro (1955/58), João Evangelista de Andrade Filho (1958/62) e Carlos Humberto Corrêa (1962/69), tendo sido na gestão deste último que o museu transferiu-se mais uma vez. Mas é preciso rever alguns pontos desse longo período.
Antônio Lopes de Faria, bolsista do Estado na Escola de Belas-Artes de São Paulo, faz o projeto de instalação do MAMF na Casa de Santa Catarina. Contando também com o auxílio de Aldo Domingues e Eunice Rihl, Sálvio organiza tudo para a inauguração das novas instalações, a 15 de abril de 1952, com uma exposição das 48 peças já citadas, todas discriminadas num catálogo ilustrado com as reproduções da escultura de Bruno Giorgi (capa), o desenho de Goeldi desaparecido, o “Retrato de Marina” de Pancetti, um desenho de Aldemir Martins e outro de Emílio Pettorruti.
“O ato de inauguração, com a presença de altas autoridades, foi simples, florido e decente” – escreveria Marques Rebelo no jornal Última Hora do Rio, a 25.04.52. Entre as autoridades, o governador Irineu Bornhausen dava a medida da importância do ato para o Estado de Santa Catarina.
No catálogo inaugural há um texto com a história sumária do museu, e a enumeração de todas as pessoas que, de diversas maneiras, contribuíram para que o museu se tornasse uma realidade. São elas, na ordem em que são citadas: Aderbal Ramos da Silva, Marques Rebelo, Armando Simone Pereira, Henrique Stodieck, Wilmar Dias, Rubens de Arruda Ramos, Hamilton Ferreira, Martinho de Haro, Julieta Torres Gonçalves, Sálvio de Oliveira, Irineu Bornhausen, João José de Souza Cabral, Jorge Lacerda, Desembargador Henrique da Silva Fontes, Domingos Trindade, Sebastião Neves, Osvaldina Cabral Gomes, Antônio Lopes Faria, Aldo Domingues, Adalberto Tolentino de Carvalho, Inácio Peixoto, Ademar de Barros, Flávio de Aquino, Julieta Ramos, Nilma Pancetti, Roberto de Assunção, Bruno Giorgi, José Silveira D’Ávila, José Nery, José Maria, Santa Rosa e Aldemir Martins.
Para o primeiro aniversário das novas instalações, a 15 de abril de 1953, Sálvio preparou grandes festividades, tendo dois pontos altos: uma conferência do escritor gaúcho Manoelito de Ornellas e a abertura de uma exposição de 25 peças da coleção particular do Deputado Jorge Lacerda que conforme consta do catálogo, fora doada ao MAMF.
Esta importante doação era formada de 19 desenhos, uma aquarela e cinco gravuras. Impõe-se a relação das técnicas e dos artistas. Desenhos: Aldary Toledo, Alfredo Kubin (Alemanha), Athos Bulcão (três desenhos), Barbosa Leite, Cícero Dias, Djanira, Eros Gonçalves, Fayga Ostrower, Noemi, Oswaldo Goeldi (dois), Paulo Flores, Tomas Santa Rosa (três) e Ylen Kerr (dois). Gravuras: duas xilogravuras de Goeldi, outra de Marcelo Grassmann, uma ponta-seca de Portinari e uma litografia de Noêmia Mourão. A coleção completava-se com uma aquarela de José Maria.
(Destas 25 obras, o acervo do MASC possui apenas oito: os três desenhos de Santa Rosa, dois desenhos de Athos Bulcão, os desenhos de Cícero Dias e Barbosa Leite e a gravura de Portinari).
Altos e Baixos
Em 1952, depois da inauguração, o MAMF realiza exposições de Aldary Toledo, Vera Assumpção, Jan Zach e Dália Antonina, com a colaboração de Rebelo, e outr ado Clube de Gravura de Porto Alegre, efetuando ainda reuniões às sextas-feiras com intelectuais e artistas. Em 1953, conferência de Clóvis Assumpção sobre Pintura Moderna, mostra de Neuza Mattos, a mostra do primeiro aniversário, um recital com o barítono Sérgio Nápoli e uma exposição de artistas catarinenses: Martinho de Haro, Malinverni Filho, Moacir Fernandes, Acary Margarida, José Silveira D’Ávila, Nordia Luna, Neuza Mattos, Aldo Nunes, Alberto Ramagem, Pedro Bosco, Eunice Rihl e Orlando Ferreira de Mello.
Depois disso, Sálvio de Oliveira vai para o Rio de Janeiro e o museu passa por um período de estagnação.
Em 1955, uma comissão encabeçada por Martinho de Haro recebe a incubência de dirigir o Museu. Fazem parte dela Tom Wildi, J.J. Barreto, Hans Buendgens, Nereu Corrêa, Aníbal Nunes Pires, Luiz Eduardo Santos e Maurício dos Reis. Este último, na qualidade de secretário, apresenta os planos para 1955/56, fazzendo uma ressalva: “com a ínfima verba de que dispõe, o Museu não custearia sequer uma das exposições almejadas” (Lina Leal Sabino, in “Grupo Sul: O Modernismo em Santa Catarina”).
Mesmo assim, reabrindo em julho/55, o MAMF realiza uma exposição com obras de colecionadores catarinenses: Newton Ávila, Wilmar Dias, Dahil Amin, Tom Wildi, Volnei de Oliveira, e quadros do acervo do Palácio da Agronômica. Na mesma ocasião é apresentada a tela “Ouro Preto”, de Eméric Marcier, doada por Maria Konder Bornhausen, esposa do governador.
Martinho de Haro conseguiu, durante sua gestão, doações importantes como: “Vila Velha”, de Bustamante Sá, doada pelo casal Acari Silva; “Velha Casa”, de José Pancetti, doação do casal Jacques Schweidson: “Casas”, de Volpi, pela Prefeitura Municipal; “Composição”, de Aldo Bonadei, por Tom Wildi; “Peixes”, de B. Bouts, doação do artista; “Montmartre”, de Milton Dacosta, por Othon Gama D’Eça que também doou “Preta” de Guignard; “Paisagem de São José”, do próprio Martinho de Haro, doação de Ondina Nunes Gonzaga.
A situação piora em 1957. Um casal de turistas cariocas deixa consignado no livro de visitantes: “Acabo de constatar um crime, em plena Florianópolis, esse museu! Entramos pela janela! Encontramos os quadros jogados pelo chão – entre garrafas de champagne. Incrível! Não sei se ficamos com raiva ou pena...” A denúncia chega à imprensa a Paschoal Apóstolo, na seção Literatura e Arte do jornal O Estado (16/06/57) transcreve o recado de Dymas e Esther Joseph, descrevendo o estado deplorável do prédio e das condições do museu, com “telas a mercê das águas” provenientes de telhas quebradas. O jornalista recorda os tempos em que o museu era “motivo de glória para o povo ilhéu” e, sentindo falta de algumas telas, declara que “muitas delas tomaram rumo ignorado”.
Governa o Estado, nessa época, Jorge Lacerda, o mesmo que pusera tanto empenho na formação do museu. O acervo é recolhido ao porão do Teatro Álvaro de Carvalho, conforme declarações de Jason César de Carvalho, confirmadas por João Evangelista de Andrade Filho, e a Casa de Santa Catarina entra em reformas.
Volta ao Museu
Com a reforma da Casa de Santa Catarina, o museu volta a funcionar em 1958 com espaços maiores: três salas para exposições, uma para o depósito e outra onde começará a funcionar a Escolinha de Arte de Florianópolis, oficializada, mais tarde, na gestão de Carlos Humberto Corrêa.
Em março de 1958, assume a direção do museu, João Evangelista de Andrade Filho, paulista de 27 anos, professor de História da Arte na Faculdade Catarinense de Filosofia. Durante sua gestão, que se prolongará até abril de 1963, o MAMF é reativado com a montagem de 25 exposições temporárias, projeção de filmes sobre Rembrandt, concurso de Poemas Murais, cursos e conferências. Angelo Ricci, Fioravante Ferro e Eudoro de Souza são os responsáveis pelos cursos rápidos sobre “Giambattista Vico e Benedetto Croce”, “Arte Romana” e “Filosofia da Arte”, respectivamente.
No campo das exposições, Evangelista movimenta o museu com mostras didáticas (3.000 Anos de Arte Egípcia, Pintores Franceses dos Séculos XIV, XV e XVI, Gravuras Populares do Nordeste), e de artistas cariocas, gaúchos e mineiros. Em 1961 o jovem diretor traz ao MAMF gravuras de artistas argentinos e mexicanos, conseguindo doações que ainda se encontram no acervo do MASC.
O catarinense Ernesto Meyer Filho expõe desenhos em 1958 (primeira individual de artista catarinense no museu) e 1961 e, em 1959, o Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis (GAPF) realiza seu II Salão (o primeiro foi realizado em 1958, no Grupo Escolar Dias Velho).
Assumindo a direção em abril de 1963, Carlos Humberto Corrêa, catarinense de 21 anos, estudante de História na UFSC, leva adiante o entusiasmo de Evangelista, montando mais de 60 exposições temporárias durante sua gestão, entre abril de 1963 e março de 1969. Palestras são realizadas por Maria Polo, Bethy Giudice e Francisco Stockinger; é ministrado, em 1966, um curso de Teoria e Prática de Arte Infantil e acontece até mesmo um recital de canto, a cargo do tenor Nibet Deucher. Também em 1966, Carlos Humberto participa do I Seminário de diretores de Museus de Arte, em São Paulo. Patrocinado pelo Museu de Arte Contemporânea e Universidade de São Paulo.
Em contato com embaixadas estrangeiras, a nova direção consegue trazer a Florianópolis diversas exposições internacionais, documentadas por reproduções e cartazes. A nível nacional, destacam-se as exposições de Di Cavalcanti (50 desenhos e guaches de 1922/36) e Meio Século de Arte Nova, do acervo do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo.
A arte catarinense merece a atenção de Carlos Humberto com individuais de Vechietti, Eli Heil, Hassis, D’Ávila, Rodrigo de Haro e Aldo Nunes. E, no encerramento anual, de 1963 a 1968, são montadas Exposições da Escolinha de Arte de Florianópolis.
Terceira Morada
Como o velho prédio da Casa de Santa Catarina não oferecesse condições de reforma, foi demolido para dar lugar ao edifício onde se instalou a Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo. Quanto ao MAMF, foi transferido em outubro de 1968 para uma casa da Av. Rio Branco, 160, que não mais existe.
Era uma bela residência do início do século. O gabinete do diretor, da datilógrafa e uma escriturária, resumia-se a uma saleta de 8,5m². A cozinha foi adaptada para o acervo, com prateleiras de madeira, tendo apenas uma janela para ventilação das obras. Para exposições, três salas somando cerca de 34m² (o salão atual do MASC é 39 vezes maior). Um depósito de madeira ao fundo do quintal e um porão com menos de dois metros de altura (onde funcionou a Escolinha de Arte), completavam os espaços do Museu de Arte de Florianópolis, que aí ficaria por quase dez anos, até janeiro de 1977.
Esta casa conheceria apenas um diretor, o artista plástico Aldo Nunes, com 43 anos, bacharel em Direito pela UFSC, ex-professor de Desenho e Desenho Pedagógico no Instituto Estadual de Educação, que ficaria responsável pelo museu de março de 1969 até março de 1981 (12 anos). No endereço, Aldo manteria o ritmo da programação dos diretores antecedentes até dezembro de 1974, tendo montado mais de 80 exposições temporárias.
Intercalavam-se individuais e coletivas com artistas catarinenses e brasileiros, além de mostras do acervo e algumas estrangeiras. São desse período, entre outras, as individuais de Babinski, Evandro Carlos Jardim, Geraldo Rocha, Eli Heil, Silvio Pléticos, Elke Hering, Arnaldo Ferrari, Aldemir Martins, Martinho e Rodrigo de Haro, Jayro Schmidt, Meyer Filho, Bethy Giudice, Hassis, Luiz Henrique Schwanke e Berenice Gorini.
O pintor Silvio Pléticos deu cursos de desenho e pintura, entre 1968 e 1972, e o MAMF, por falta de espaço próprio, promoveu junto com a UFSC um curso de Introdução à Arte Contemporânea, ministrado por Luís Nage Endre, da Universidade de La Paz, Bolívia, no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas (1968). Fiel à Escolinha de Arte, Aldo Nunes promoveu anualmente exposição de obras dos alunos.
Foi também nesta morada que o MAMF mudou de nome, repentinamente. Quando o governador Ivo Silveira fez a reforma administrativa da Secretaria da Educação e Cultura, por decreto n° 9.150 de 4 de junho de 1970, com 135 artigos, uma subdivisão do título IV passa a chamá-lo Museu de Arte de Santa Catarina.
Tempos Difíceis
Nos anos de 1975 até março de 1979, o Museu de Arte de Santa Catarina conheceu seus tempos mais difíceis, piorando em janeiro de 1977 quando é transferido para a quarta morada, outra casa na rua Tenente Silveira, 120. Aí, mal tem condições de mostrar o acervo que, a despeito de tudo, nunca parou de crescer.
Durante esse tempo, Aldo Nunes pouco pôde fazer, além de manter sua fidelidade à Escolinha de Arte, cuja XVII exposição em 1977, foi levada a Itajaí. Em 1979, com a criação da Fundação Catarinense de Cultura, a Escolinha de Arte foi desmembrada do Museu.
Para se ter uma idéia da precariedade das instalações, basta dizer que Aldo chegou a mostrar parte do acervo numa exposição intitulada ARS/ARTIS VERÃO/77, montada no Centro Comercial Aderbal Ramos da Silva. Por ironia, ARS também são as iniciais do próprio governador que, em 1949, criava o museu.
Na Alfândega
A 2 de março de 1979, trinta anos depois de sua fundação, o Museu de Arte de Santa Catarina recebe um tratamento mais condigno, sendo instalado no antigo prédio da Alfândega, à rua Conselheiro Mafra, restaurado pelo governador Antônio Carlos Konder Reis. Marques Rebelo, se fosse vivo, repetiria que o ato inaugural “com a presença de altas autoridades, foi simples, florido e decente”.
Aldo Nunes batizou uma sala com o nome de Eduardo Dias e a outra como Victor Meirelles, com 244m² cada uma. Mas teve de instalar seu gabinete dentro de uma das salas de exposição, pois esta quinta morada abrigava também o Museu Histórico que, como bom vizinho, cedeu outra sala para o acervo do MASC – a esta altura com 485 peças.
Retomada a programação de exposições, foram vistas as individuais de Rubens Oestroem, Ernesto Meyer Filho (60 anos), Max Moura, uma retrospectiva de José Silveira D’Ávila, etc. Entre as coletivas, a reapresentação do Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis, criado em 1958, e Quatro Damas da Arte Catarinense, reunindo Eli Heil, Elke Hering, Jandira Lorenz e Suely Beduschi, exposição organizada por Harry Laus e levada ao Museu de Arte de Joinville.
Com a ida de Aldo Nunes para Belo Horizonte, a fim de fazer um curso de restauração e servir ao MASC nesse setor fundamental e até então bastante desprezado, em abril de 1981 assume a direção o artista plástico José Silveira D’Ávila (1924-1985), prêmio de Viagem ao Estrangeiro no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1965.
D’Ávila não só ativou o programa de exposições como preocupou-se em desenvolver o artesanato catarinense e iniciar diversos cursos. Foi adquirida uma prensa para litografia e, em 1982, Antonio Grosso veio do Rio para ministrar cursos específicos desta técnica, enquanto outros professores encarregavam-se de ensinar desenho, pintura, tecelagem, etc. Esta a origem das Oficinas de Arte, ainda não estruturadas convenientemente.
A preocupação de D’Ávila com o museu e seu amor pelo artesanato, levaram-no a abrir um espaço para o comércio destes artigos, tentando minorar o problema de falta de recursos.
A 1° de junho de 1983, D’Ávila passa a trabalhar na Fundação Catarinense do Trabalho (FUCAT), ficando como diretor do MASC o diretor-adjunto desde 1979, Humberto José Tomasini, com 37 anos, desenhista, pintor, graduado em Letras pela UFSC. Por esse tempo já estava concluída a construção do Centro Integrado de Cultura, iniciativa do governador Jorge Bornhausen, onde o MASC teria sua sede definitiva. D’Ávila forma o Centro de Artesanato, da FUCAT, numa das salas do museu na Alfândega e Tomasini encarrega-se de levar o MASC para a sexta morada, no CIC
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Harry Laus, diretor do Museu de 1985 a1987 e 1989 a 1991 |
Maria Teresa Lira Collares, diretora de 1992 a 1998 |
Tempos Atuais
Agora o Museu de Arte de Santa Catarina possui quase 800 obras em seu acervo e está instalado numa ala de 1980m² do Centro Integrado de Cultura, no bairro da Agronômica, em Florianópolis, dispondo de um salão único de 1440m² para exposições.
Em seus 38 anos de existência, o MASC andou de Herodes a Pilatos, como um mau inquilino, e teve sete diretores, sem contar atual, entre eles o artista Aldo Nunes que o dirigiu por 12 anos, sendo hoje seu restaurador. Deve-se a ele, entre outras coisas, a tentativa de pôr ordem no acervo, descobrindo a falta das obras referidas neste Resumo Histórico.
Os tempos atuais, de fácil levantamento, contam com a presença de Harry Laus na direção, nomeado em 15 de julho de 1985. Jornalista, escritor, crítico de arte, atualmente com 64 anos, conta com instalações com o MASC nunca teve e com uma equipe coesa, a “família do museu”, numerosa com o museu também nunca teve. Lutando com a nova série de dificuldades para equipar os grandes espaços agora existentes, Laus espera compreensão e apoio para transformar o Museu de Arte de Santa Catarina no mais significativo Museu de Arte do Sul do Brasil.
Pesquisa Geral: Terezinha Sueli Franz
Redação Final e Pesquisa Complementar: Harry Laus
Atualizações Museológicas
Com sede definitiva e direção de Harry Laus, de 1985 a 1987 e de 1989 a 1991, atualizações museológicas gradualmente foram postas em prática no Museu de Arte de Santa Catarina. Durante o seu breve afastamento, Hugo Mund Júnior assumiu a direção e executou o que estava previsto, seguido por Édson Busch Machado.
Laus vinha do eixo Rio-São Paulo com experiência ativa que em pouco tempo começou a dar resultados, renovando o museu a partir de seu objetivo maior: redimensioná-lo em termos de contemporaneidade, sem, contudo, esquecer as suas funções tradicionais. A competência e atitude crítica de Laus fizeram do museu uma casa de arte sem precedentes.
Entre as mudanças, que na época significaram combater dificuldades, destacam-se a adequação das salas de exposições, a reorganização do acervo, o levantamento da memória, a implantação do núcleo de arte-educação, o projeto Indicador, retrospectivas e panoramas, além da anexação das Oficinas de Arte ao museu. Laus, em suma, viabilizou todos os setores que fazem parte dos aspectos museológicos.
O acervo, que sempre conviveu com condições inadequadas, na gestão de Laus passou a ter a devida atenção, começando com o tombamento de várias obras, assim como a correção de dados técnicos, e, sobretudo, seu crescimento a partir da Galeria da Casa da Cultura, criada em 1980 e com administração do MASC. Segundo pesquisa de Ronaldo Linhares, "através de edital distribuído às instituições culturais e artistas do País, eram apresentadas mensalmente exposições, tanto individuais como coletivas, onde os artistas tinham como compromisso a doação de uma obra para compor o acervo do Museu". Outras doações foram importantes, como a de Gileno Muller Chaves, paraense "que doou vinte e seis obras sobre papel de autores daquele Estado". O mesmo aconteceu com o Banco Central do Brasil, "repassando para o MASC quarenta e nove trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas, de nomes importantes como Tarsila do Amaral, Clóvis Graciano, Cícero Dias, Marcelo Grassmann, Alfredo Volpi, entre outros".
O mesmo se pode dizer da memória, incompleta ou aleatória, sendo viabilizada desde os precedentes da fundação do museu até l987, com pesquisa de Terezinha Sueli Franz, um detalhado material microfilmado e editado com redação e pesquisa complementar de Laus no catálogo MASC 38 anos –1949/1987.
Coube, também, a Terezinha Sueli Franz propor a Laus um núcleo de arte-educação, implantado em 28 de julho de 1987 com o apoio de Lygia Roussenq Neves, na época, Superitendente da Fundação Catarinense de Cultura. O núcleo foi chamado de Setor de Serviços Educativos do Museu de Arte de Santa Catarina, Semasc. Conforme Terezinha Franz, "somente a partir de março de 1988 é que se pode falar em sistematização do atendimento ao público escolar. Alguns professores das escolas mais próximas ao MASC eram tão assíduos que incluíam as visitas às exposições no Planejamento Escolar Anual. Conforme relatórios da época, só no ano de 1988 foram atendidos pelo setor em torno de 3.000 estudantes, em encontros com artistas, oficinas de criação artística, projeções de slides e visitas monitoradas às exposições". O museu, com esta iniciativa, didaticamente passou a integrar-se à comunidade.
Para viabilizar mais ainda o museu como instrumento de produção de sentidos, Laus reuniu em livro, Indicador Catarinense das Artes Plásticas, notícias biográficas e curriculares de artistas nascidos ou que viveram e vivem em Santa Catarina.
Quanto aos eventos artísticos propriamente ditos, Laus investiu na dialética crítica com certames em retrospecto, Elke Hering e Fayga Ostrower em 1985, e certames curatoriais de maior abrangência, "Panorama Catarinense de Arte": pintura em 1984, desenho e gravura em 1985 e volume em 1990.
Continuidade
Laus esteve à frente do museu até 1991, deixando uma herança formada com inventividade.
Maria Teresa Collares, que dirigiu o museu de 1992 até 1998, teve o privilégio de dar continuidade a este modelo exemplar.
Entre as realizações de Maria Teresa Collares, em 1993 inaugurou-se a Sala Especial Harry Laus, climatizada, para exposições especiais como "Carretéis", pinturas de Iberê Camargo. Nesse ano o museu passou a produzir o Salão Victor Meirelles, mais tarde com abrangência nacional. Por outro lado, na gestão de Collares, o museu investiu em parcerias com a iniciativa privada, como, por exemplo, o projeto aprovado em 1995 pela Vitae -Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social, de São Paulo, com o qual o acervo foi ampliado e equipado com trainéis móveis em aço para acondicionamento de obras em tela, mapotecas para obras em papel, prateleiras para obras em volume e aparelhos de controle de umidade e temperatura relativas do ar. Outras exposições de destaque foram realizadas, como "Gravuras e desenhos", em 1993, de Marcelo Grassmann, e “Momento de Guerra – Mementos”, em 1995, de Carlos Scliar.
Collares, juntamente com Nancy Bortolin, também foi responsável pela retomada do Indicador Catarinense de Artes Plásticas e da organização de Biografia de um Museu, porém sem poder publicá-los. Ainda em sua gestão, foi instituída a Associação Amigos do MASC - AAMASC.
Direção Recente
Com breve passagem no museu, no final de 1998, Rubens Oestroem foi substituído, em 1999, por João Evangelista de Andrade Filho, escritor, ilustrador e professor de história da arte.
João Evangelista concentra esforços na dinamização do museu através de exposições de artistas de outros centros culturais do País, como, por exemplo, a de Rubem Grilo, "Xilogravuras", e a de Athos Bulcão, "Retrospectiva", ambas em 1999. Observa-se, ao mesmo tempo, a ênfase na produção catarinense voltada para a expressão contemporânea da arte. Com o "1.° Mapeamento das Artes Plásticas de SC", durante o ano 2002, este objetivo foi atingido. A exposição, itinerante e com palestras em alguns municípios do Estado, motivou o confronto crítico entre artistas e, sobretudo, o questionamento em torno de curadoria. O MASC, para intensificar a "descentralização das ações do museu", em parceria com o SESC levou a efeito "A itinerância do Mundo Ovo de Eli Heil", exposição itinerante em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, como também "Pretexto Poético" e "A arte da gravura em Santa Catarina", ambas itinerantes em vários municípios do Estado e com oficinas práticas em torno de seus conceitos artísticos.
Outros projetos desencadeados anteriormente vieram à luz, como, por exemplo, a nova edição revista e ampliada do Indicador Catarinense das Artes Plásticas. Trata-se de uma primorosa edição encabeçada por Nancy Bortolin. Outro projeto anterior é Biografia de um Museu, idéia de Harry Laus, iniciada por Maria Teresa Collares, cabendo a Nancy Bortolin a continuidade e a preparação final dos originais.
Com o projeto "Restauração de Obras do Acervo do MASC", aprovado pela Fundação Vitae em 1999, a reserva técnica está recebendo atenção específica com a atuação especializada de Cláudia Philippi Scharf, que também treina os responsáveis atuais pelo acervo, Ronaldo Linhares e Cristina Maria de Siqueira. Das obras mais danificadas, vinte e duas foram restauradas e expostas no próprio museu, acompanhadas de documentação completa sobre o andamento dos trabalhos, um material didático substancial que pode ser publicado como já acontece com os cadernos do MASC. O projeto continua até 2003, abrangendo a restauração de obras sobre papel. Outro projeto patrocinado pela Vitae é "O museu e a escola", que desenvolve atividades de arte-educação nesse sentido.
A dedicação de João Evangelista ao museu continua apresentando resultados. Os mais recentes são o projeto de expansão do acervo e a exposição "A Poética da Morte na Cultura Brasileira", composta por obras e reproduções de artistas de várias regiões do País.
Redação e pesquisa complementar: Jayro Schmidt
Dados fornecidos por Nancy Bortolin, Cristina Siqueira, Terezinha
Sueli Franz, Christiane Castellen e Ronaldo Linhares
Fonte Biografia de Um Museu
A bem dizer, a decisão de lutar pela criação de um museu de arte, em Florianópolis, surgiu no início de março de 1948, férias findas. Voltaram a ver-se quatro “barrigas-verde” que tornaram ao salutar hábito de se juntarem várias vezes por semana, tomar “umas e outras”, jogar conversa fora, moldar o mundo à sua feição e não deixar morrer ideia nascida anos antes, fruto do que consideravam um absurdo (desaforo, até!) a inexistência de instituição do gênero em Santa Catarina, no limiar, mesmo, da segunda metade do século XX.
Na realidade, o hábito referido existia fazia algum tempo, desde 1944, quando José Silveira D’Ávila, dando partida à brilhante carreira de artista plástico - desenhista, gravador, pintor e vidreiro - e eu, de olho no magistério, ingressamos na antiga Escola Nacional de Belas Artes. Lá fomos (re)encontrar os conterrâneos Flávio de Aquino, em vias de concluir o curso de Arquitetura e se iniciando, com muito brilho, na crítica de arte, e Moacyr Fernandes de Figueiredo, o Moa, já dando mostras inequívocas de seu grande talento como escultor.
Nosso ponto de encontro, após as aulas, noite chegando, situava-se bem à mão, nas ilhargas da Escola, o café e bar Porto Alegre, mais conhecido como “O Vermelhinho”, não tanto por sua decoração interna, paredes espelhadas na cor, igual à das mesas e cadeiras de vime na calçada, e sim - e principalmente - pelo “esquerdismo” da quase totalidade de seus frequentadores: artistas plásticos e de teatro, escritores, jornalistas, universitários, intelectuais de um modo geral. Ao longo de muitos anos, até que muitos deles se dispersassem, mudassem de pouso, houve os “assíduos”, os que “assinavam ponto” todos os dias, os “hebdomadários”, aparecendo uma vez cada semana. E os “eventuais”, os que, apenas ocasião ou outra, “davam as caras”, como então se dizia.
Entre os primeiros e segundos, citem-se o Caloca, o desenhista e arquiteto Carlos Leão, à época detalhando o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde, concepção original de Le Corbusier; o jornalista Macedo Miranda, sempre chegando acompanhado de Santa Rosa, pintor e cenógrafo de nomeada; o professor, pintor e crítico de arte Quirino Campofiorito, o qual, juntamente com os pintores Bustamante Sá e Milton Dacosta, não se cansava de matar saudades do Grupo Bernardelli. Não esquecer, outrossim, o caricaturista e famoso contador de casos Álvaro Cotrim, o Alvarus, e o compositor e, também, caricaturista Nássara, já surdo como uma porta. Quem não deixava de pontificar, igualmente, era o desenhista e pintor Augusto Rodrigues, em trânsito no jornal que enriquecia com suas “charges” para o famoso apartamento da rua do Passeio, sempre atulhado de telas, tintas, pincéis e livros, mas onde nunca deixou de caber quem dele precisasse, conhecido ou não. (Começavam a surgir as primeiras fumaças da que, em breve, viria a ser a Escolinha de Arte do Brasil, uma das invenções mais sérias deste País). Refira-se, ainda, o paraibano José Simeão Leal, professor da Faculdade Nacional de Filosofia e crítico de arte, a imaginar seus Cadernos de Cultura e, também, o brilhante jornalista Marcial Dias Pequeno, cearense de Icó, dois metros de competência, humanismo e bom humor. É o crítico de arte e pintor José Maria dos Reis Júnior, com seu inseparável cachimbo, a lembrar dos que fizeram a Semana de 22, da qual participara também o pintor Di Cavalcanti, como sempre, pronto a pandegar por conta própria ou alheia. Impossível esquecer Carlos Drummond de Andrade, o grande poeta, e José Cândido de Carvalho, jornalista e escritor, que, um dia, se imortalizaria com O Coronel e o Lobisomem.
E, “last but not least”, os colegas de Belas Artes que, num futuro não muito distante, se projetariam como grandes artistas e professores universitários: Renina Katz e Abelardo Zaluar, Ubi Bava, Fernando Pamplona, nome ligado à revolução plástica operada na cenografia das escolas de samba e ao magistério superior; Napoleon Potyguara Lazzaroto, o paranaense Poty, glória de seu estado natal e grande expoente de Desenho e da Gravura; Hugo leite, ano após ano a lidar com política estudantil e assíduo frequentador, também, das celas do DOPS.
E, ainda, Nathalia Timberg e Cláudio Corrêa e Castro que já atuavam com muito destaque, no Teatro do Estudante do Brasil, os quais, depois de ornados, deram as costas à criação plástica e foram inventar memoráveis personagens no teatro, no cinema e na televisão.
Entretanto, verdade se diga: quem dominava ambiente frequentado por gente vinda de quase todos os Estados, para estudar ou trabalhar na, então, Capital Federal, era Marques Rebelo, romancista consagrado e cronista de qualidade ímpar. Nascido Eddy Dias da Cruz, levava muita fé na sua cria, o então menino José Maria, sem dúvida promissor talento, pelo que fazia e o orgulhoso pai exibia...
Em tempo no qual o Norte e o Nordeste ocupavam literariamente o território nacional, só Marques Rebelo, grande homem de letras carioca, fazia frente à inteligente inflação “pau-de-arara” (como se costumava dizer) numa cidade, o Rio de Janeiro daqueles dias, de convívio ainda extremamente cordial.
Recorde-se que, de início, vivia-se época na qual o mundo se movia a tiros de canhão e, por isso, o principal assunto das conversas era a guerra, tanto na Europa - onde os russos estavam pondo a correr de volta os blindados da cruz gamada, e os soldados aliados se apressavam a botar seus borzeguins nos chãos da Normandia - como no distante Pacífico, com os mariners "pererecando" de ilha em ilha e se avizinhando do Japão. Claro, tudo entremeado de diatribes contra o Estado Novo Caboclo (ditas bem baixinho, pois os espiões estavam em toda parte) e o que representava, mormente o ensino vigente na Escola de Belas Artes, onde estudávamos, com professores caninamente fiéis (salvo poucas e honrosas exceções) aos postulados do Academismo Neoclássico para cá trazidos pela Missão de 1816 e de há muito ultrapassados. E, também - por que não? - Quem estava namorando quem, a melhor cachaça para esta ou aquela batida de fruta, a peça de teatro estreada, o livro recém-editado, quem tinha sido preso pelo DOPS...
Quatro anos depois, no entanto - fazia muito terminara a guerra e se sepultara o Estado Novo -, assuntos outros passaram a dar linha à prosa, força, mesmo, de circunstâncias diferentes. E foi a vez, então, de acaloradas conversas a respeito da criação dos indispensáveis espaços nos quais os novos talentos mostrassem o que produziam, no rastro, mesmo, de iniciativas locais de grupos e movimentos literários e artísticos que brotavam por todos os cantos do País. Consequência lógica, reação contrária às restrições conservadoras e academizantes de uns tantos privilegiados - despreparados, quase sempre e, ontem como hoje, alçados a postos de mando (e de desmando) não por mérito, mas por apadrinhamento político e tão somente à cata de gloríolas de ocasião, sem compromisso com a cultura, e sim com a promoção pessoal.
Foi, então, que se começou a crer na possibilidade de Santa Catarina vir a ter afinal seu museu de arte, uma instituição que espelhasse a nova realidade cultural do pós-guerra. Animaram-nos, principalmente, as notícias da criação, no ano anterior, do Círculo de Arte Moderna e o aparecimento do primeiro número da Revista SUL, trabalho abnegado de jovens intelectuais catarinenses que, como nós, na Capital Federal de então, brigavam pelo novo. Seu mentor era Aníbal Nunes Pires, grande figura humana e que fora professor de todos nós no Ginásio Catarinense. Coadjuvavam-se Salim Miguel, Eglê Malheiros, Antonio Paladino, Hamilton Valente Ferreira, Elio Ballestedt, Salvio de Silveira, Ody Fraga, entre outros. E motivaram-nos não só a criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo e a luta, já em curso, em prol de seus congêneres no Rio de Janeiro e em Resende, como ainda as exposições de obras de artistas modernos organizadas por Marques Rebelo, a quem não foi difícil convencer a participar do sonho por nós acalentado.
Nunca será demais repetir que cabe, exclusivamente, ao saudoso amigo Flávio de Aquino, o competente articulador de sua criação, o mérito maior pela existência do Museu de Arte Moderna de Florianópolis (desde 1967, Museu de Arte de Santa Catarina) cuja sede, por ele concebida - o projeto foi estampado na Revista SUL - e a ser plantada na área aterrada fronteira ao Instituto Estadual de Educação, comporia com este, também de sua autoria, harmonioso conjunto arquitetônico próximo ao antigo centro histórico da Cidade, fazendo com que o ontem e o hoje se ajustassem em termos de proposta educativa e cultural. Credite-se a seu pai, o Senador Ivo de Aquino, a tessitura política necessária à oficialização de entidade cultural que surgiu na cauda da ventania provocada pela exposição de arte moderna montada no Grupo Escolar Dias Velho e por compromisso atado com a embira da naturalidade comum a todos nós, pois, embora longe, continuávamos filhos e fiéis à velha Cidade de Nossa Senhora do Desterro.
Agora, quase cinquenta anos passados, também poderia dizer como Apolonio de Carvalho: "Vale a pena sonhar!" O Museu de Arte de Santa Catarina é uma grande realidade, uma instituição respeitada, o orgulho de todos nós, catarinenses, pela seriedade e competência no trato da questão artística. Possuidora de excelente acervo, mantém exposição permanente e abriga exposições temporárias realizadas, sempre, com muito esmero, no curso das quais são montados eventos paralelos de Educação Artística para escolares do primeiro e segundo graus, o encontro com o artista e “workshop” com o expositor.
Além de possuir uma biblioteca, o Museu também leva a termo pesquisas em arte. Dotado de bem montada Reserva Técnica, o que é muito importante, situa-se em meio a complexo cultural - o Centro Integrado de Cultura - onde, diariamente, vive-se intensa programação de atividades artísticas.
Valeu, sim, sonhar!
Fonte: Biografia de Um Museu ( desenho de Aldo Nunes - Antiga sede do Museu, Av. Rio Branco)
O Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) é uma entidade vinculada à Fundação Catarinense de Cultura (FCC), criado em 18 de março de 1949 com o nome de Museu de Arte Moderna de Florianópolis (MAMF). Desde então, é o órgão oficial na área das artes visuais, instalado, hoje, no prédio do Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis, a Capital do Estado.
A trajetória de origem e desenvolvimento do MASC coincide com um momento de efervescência e dinamismo cultural que marcou a década de 40 no Brasil, quando foram criadas instituições de referência como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 1947, e o Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, em 1948.
O Círculo de Arte Moderna (CAM), mais tarde conhecido por Grupo Sul, constituiu-se num antecedente histórico marcante para o então MAMF, ao trazer para a Florianópolis, em 1948, a "Exposição de Arte Contemporânea", juntamente com a presença de seu idealizador, o escritor carioca Marques Rebelo. Foi, a partir dessa mostra, acompanhada de palestras sobre arte contemporânea proferida pelo escritor, que nasceu o embrião do atual MASC.
Daquela época para este começo de século XXI, o MASC reuniu e disponibilizou ao público um diversificado e expressivo acervo de 1.775 obras de artistas nacionais e estrangeiros, com destaque também aos artistas catarinenses. Nas últimas décadas, o museu continua expandindo sua missão de socializar arte, cultura, prazer estético e conhecimento à comunidade, a visitantes e a turistas, por meio de exposições de curta duração do acervo, Salão Nacional Victor Meirelles, mostras temporárias, biblioteca, programas de visitação mediada, publicações e assessoria técnica.
O trabalho do MASC materializa-se por intermédio dos Núcleos de Arte-educação, Conservação e acervo, Exposições e montagem, Pesquisa, Documentação e Biblioteca, além das áreas de direção e administração. Conta também com o apoio , dos serviços do Atelier de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Atecor) e da Associação Amigos do Museu de Arte de Santa Catarina (AAMASC).
A atual gestão do Museu teve como principal desafio desenvolver e implementar o Plano Museológico do MASC, de acordo com o novo Estatuto de Museus (lei 11.904, de 14/01/2009). A equipe diretiva e técnica tem participado ativamente de um processo de qualificação e aperfeiçoamento visando dotar a instituição de um planejamento estratégico voltado cada vez mais para o papel contemporâneo e de vanguarda que cabe aos museus: o de serem um processo vivo a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento; de estarem comprometidos com a gestão democrática e participativa; e constituírem-se em unidades de investigação, pesquisa, interpretação, mapeamento, documentação e preservação cultural.
A partir desta concepção filosófica e conceitual, o museu será um fórum permanente para o debate e a reflexão, contribuindo para a comunicação e a exposição dos testemunhos do homem e da natureza, com o objetivo de propiciar a ampliação das possibilidades de construção identitária e a percepção crítica acerca da realidade cultural. Museu idéia com novas áreas de respiro. Nesse contexto, recebe particular relevância o significado das iniciativas do MASC no campo da Ação Educativa, uma função crescentemente essencial nas ações dos museus. Por isto, até 2014, quando o Plano Museológico do MASC deverá estar concluído, o Museu manterá seu foco também na criação de comissões consultivas e curatoriais para políticas de acervo e a realização de exposições de longa duração, temporárias, de visitantes e itinerantes, utilizando seu espaço e suas atividades educativas para o fomento da interdisciplinaridade, da reflexão e da fruição sensível, inteligente e interativa da visualidade e das artes contemporâneas.
Lygia Helena Roussenq Neves
Administradora do Museu de Arte de Santa Catarina / MASC - dezembro de 2010
Seguem informações sobre o MASC, extraídas da obra "BIOGRAFIA DE UM MUSEU", editada em 2002.
UMA TRAJETÓRIA BRILHANTE
A história do Museu de Arte de Santa Catarina se confunde com uma das fases mais promissoras e efervescentes da produção cultural catarinense. Foi em 1949, quando a revista Sul deu voz e vez a um grupo de obstinados defensores da renovação literária e artística neste Estado, que surgiu o Museu de Arte Moderna de Florianópolis, resultado desse ainda incipiente movimento contra as amarras do passado e prêmio à clarividência do escritor Marques Rebelo, que no Rio de Janeiro moveu peças de que dispunha e ajudou a criar o primeiro choque de modernidade nas artes catarinenses.
A partir daí, com a literatura e as artes já afinadas com o resto do mundo, o Museu foi o ponto de encontro para as tertúlias, a referência pontual para o debate, o epicentro onde se geravam os manifestos, ideias e ideais de gente insatisfeita com a modorra e o conformismo locais. Foi com João Evangelista de Andrade Filho, José Silveira d'Ávila, Harry Laus e tantos outros que o MASC ganhou nome, disseminou o conhecimento, formou e reciclou artistas e construiu, com a paciência de quem amadurece, um acervo de invejável qualidade, padrão e diversidade, mesmo estando fora dos chamados eixos emissores da grande cultura nacional.
Hoje, aos 53 anos, o Museu de Arte de Santa Catarina frequenta a agenda de compromissos de artistas consagrados e, através do Salão Victor Meirelles, consta dos projetos e alimenta a ambição de jovens valores da arte brasileira por espaço e projeção. Suas mostras crescem cada vez mais em apuro e a listagem de pedidos de pauta já não se ajusta às datas disponíveis.
O coroamento de tão relevante trajetória precisaria, sem dúvida, contemplar o acervo, hoje com mais de 1.400 obras, com um catálogo que apresentasse tudo o que esconde esse tesouro encravado nas entranhas do Museu. É o que está contido no presente volume, elaborado, com carinho e minucioso empenho, por funcionários da casa e apoiado pela empresa Malwee Malhas, de Jaraguá do Sul, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.
Concluída mais esta etapa da história do MASC, resta-nos agradecer à equipe que elaborou a pesquisa e o registro fotográfico do acervo, às empresas pela visão e sensibilidade que demonstraram, e a todos os que atuaram e atuam no Museu. O sonho de Harry Laus, que em 1989 deu início ao processo que culmina com esta obra, está enfim realizado. Cabe a nós, os outros catarinenses, que se orgulham do Museu, lutar cada vez mais pela sua valorização.
Iaponan Soares
Diretor Geral da Fundação Catarinense de Cultura
Atualmente, com 53 anos, e dirigido pelo professor João Evangelista de Andrade Filho, o MASC tem um papel fundamental no desenvolvimento cultural catarinense e nacional.
A biografia do museu junta-se a este desenvolvimento, proporcionando às universidades e escolas, como também ao mundo artístico, um importante material de consulta histórica e didática, tendo como idealizador o escritor e crítico de arte Harry Laus.
A Malwee, considerando os objetivos do MASC, associa-se a este grande trabalho e com ele colabora, na certeza de assim retribuir o carinho que sempre recebeu da comunidade Barriga Verde.
A Malwee, num gesto de cidadania, abraça novamente a cultura catarinense.
Wander Weege
Diretor Presidente Malwee
APRESENTAÇÃO
É problemático o desenvolvimento do acervo dos museus de província. Em parte, pelo descompasso entre a sociedade, mais conservadora e despreocupada com os fatos da cultura, e a elite que deles se incumbe.
O MASC não foge à regra. Daí a irregularidade da sua coleção, cuja montagem não se deu em decorrência de critérios qualitativos, com respaldo de curadorias, orçamentos ou de mecenas, estes últimos escassos entre nós.
Optar por catálogo seletivo, que destinasse ao público apenas a "prata da casa", importaria em desconsiderar a história, a favor da estética e da propaganda. A publicação que ora chega aos usuários, na forma de catálogo geral, abrange a possibilidade de abrir-se para estudos sócioartísticos. Estes se direcionam mais à investigação sobre as possibilidades do ambiente cultural do que à pesquisa do gosto ou da "fortuna crítica" de uma produção. O material está aí. Oxalá as pesquisas se realizem.
Agradecimentos aos que colaboraram com esta obra de referência e que, pela praxe, deveriam figurar aqui na apresentação, foram assinalados em outro segmento dela. Não se abstenha o leitor de consultar a seção em que foram registrados.