Artista plástico comemora no MASC os 20 anos de sua primeira exposição em Florianópolis e revela obras inéditas produzidas recentemente.
A exposição Sobre Papel, de Paulo Gaiad, será inaugurada no dia 15 de março no Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) e promete remexer lembranças e sentimentos. Além do papel e da fotografia presentes em todas as 50 obras que estarão expostas, o tema "memória" continua a alimentar a criação de Gaiad. A seleção das quatro séries para esta exposição tem a fotografia como elemento da obra, e esta imagem autoral ou de apropriação é alterada até o artista chegar ao que ele quer dizer. A pintura está sempre por cima do papel e o papel sobre tela, que serve de segundo suporte.
A série Divina Comédia, que transitou no circuito nacional em 2004, gera agora um desdobramento com outras obras para a exposição Sobre Papel. Dividida ainda em Paraíso, Purgatório e Inferno, esta série é toda trabalhada com imagens antigas, que o artista se apropria, interfere e modifica.
"Essa série de Gaiad (Divina Comédia) pode ser exemplar para que se reflita sobre como o trabalho de arte contemporânea, muito mais que o trabalho de herança moderna, define-se apenas e tão somente pelas regras que ele mesmo define para si. Ele tende sempre a ser uma mescla ou - como queria Barthes - um cruzamento de vários textos." Tadeu Chiarelli, do texto Sobre o que fala Divina Comédia de Paulo Gaiad?
As obras da série Paisagens trazem também a fotografia, mas com imagens registradas pelo próprio artista. Uma das obras revela um fragmento de uma fotografia da praia da Solidão mesclada com intervenções em pintura. Outra obra evidencia uma fotografia do gabarito de uma cidade holandesa, com pintura e colagem. Até um rótulo de Guaraná Antarctica está impregnado na obra, signo da memória e saudade do artista enquanto trabalhava em Amsterdã, no final do ano passado. "Nunca deixei de trabalhar a paisagem, desde os anos 80. Sempre renovo a pintura e tento contemporaneizar, e nunca a deixar morrer. Há muito tempo que a paisagem é vista como algo do passado, mas eu a trago para ver também se a pintura resiste", conceitua Gaiad.
O Atestado da Loucura é uma série com imagens figurativas antigas. Dois exemplares desse trabalho fazem parte do 9º Salão Nacional Victor Meirelles, em cartaz no MASC até o próximo domingo, 4 de março. Já a série Memórias da Cozinha é totalmente inédita no Brasil, foi exibida apenas numa exposição individual na Croácia, em novembro de 2006.
Paulo Gaiad, natural de Piracicaba (SP), é arquiteto formado em Brasília, com passagem nos anos 70 pelo prestigiado escritório de arquitetura de Villanova Artigas, em São Paulo. Em 1981 se instala em Florianópolis, adota a praia do Campeche como morada e inspiração, e aos poucos troca a profissão de arquiteto pela arte - antes era um hobby. Atualmente, há obras de Paulo Gaiad em museus e com colecionadores de diversos países.
"O que une a seleção de obras para a exposição Sobre Papel, além da questão do papel, é o tema da memória. Quando trabalho as imagens de outros lugares vem a lembrança do percurso feito lá fora, quando o meu foco é o Campeche então há essa idéia das 'paredes que me cercam'. Digo isso porque o meu espaço de trabalho não é o ateliê, mas sim onde eu caminho, onde respiro." O artista tem a perspicácia de construir obras que oscilam no tempo, estão entre o passado e o presente. A verdade é que as citações de outrora ajudam a reforçar a contemporaneidade de suas obras.
Organizador: MASC
Valor(es): entrada franca
